sexta-feira, 18 de março de 2011

Tanta leitura entediava-me, afinal a vida não é assim tão perfeita e calma. Quero conhecer o real, a vida apaixonante que está para além dos portões desta quinta.
De repente uma rajada de vento gélido arrepiou-me e fez levantar todo o meu pêlo branco e ao longe ouvia-se um ranger de ferro velho e enferrujado. Ao seguir o som reparei que um dos portões se abria. Corri com toda a minha garra enquanto um pensamento de liberdade, curiosidade e medo me avassalava. Quando ouvi o estrondo do portão a fechar já me encontrava cá fora, em liberdade.
Percorri durante dias ruas desertas, onde só se avistavam mais flores e ervas e alguns coelhos. Desiludido, sentei-me a pensar que talvez nunca conseguisse conhecer a bela Lisboa cheia de vida e graça de que tanto ouvira falar aos meus donos. Continuei o meu caminho, cansado, com as patas em ferida de tanto correr, de boca seca e estômago colado, até que comecei a ouvir grandes barulhos, barulhos de buzinas, e via luzes intensas, apesar da noite, e sempre o barulho, muito barulho de pessoas conversando e gritando.
Tinha chegado à grande cidade cosmopolita, Lisboa. Estava adorar tudo o que via, os teatros, os cinemas, as lojas, a correria de toda uma vida cheia e agitada.
Uma noite, enquanto seguia um rato que havia encontrado, perdi-me num sítio escuro. Reparei em pessoas estendidas pelo chão e pelos bancos do jardim, sujas, de roupas rasgadas, cabelo despenteado, tapadas por cartões e papéis de jornais. Pensei para mim que ninguém havia de saber o que ali se passava, pois ninguém deixaria ali pessoas daquela idade sozinhas e abandonadas numa noite tão fria e melancólica. Então reparei no mar de pessoas que ali passavam e desviavam o olhar. Aquelas pessoas, de relógio da Timberland, de fato e gravata, com os seus BMW's e Audis que riam e brincavam, mas não eram capazes sequer de olhar. Como podia esperar que se preocupassem?
Joana Pereira, 11.º A

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