sexta-feira, 18 de março de 2011

Estava deitado sobre a relva fresca, mas não conseguia dormir. A abundância de cheiros no ar deixava-me agitado. Resolvi levantar-me e caminhar. Para além de estar um sol quentinho, a relva ainda estava molhada, o que deixava o meu pêlo húmido e fresco. Sabia bem o sol quentinho sobre o meu pêlo comprido.
Sentia o cheiro a papoilas no ar, o cheiro a sol, a água e a vento. Observei o meu reflexo numa pequena poça de água. "Ai, ai, como és lindo, Bonifácio!" Molhei a pata com a minha língua e arranhei o pêlo da minha cabeça. As minhas manchas amarelas estavam mais amarelas que nunca, já para não falar no branco do meu pêlo que estava bastante luzidio.
O vento trouxe-me o cheiro doce e maravilhoso de uma tarte, ainda quentinha, de amora. Inspirei fundo e segui o cheiro. "Como cheira bem!", pensei.
Já era capaz de me imaginar a lambuzar-me naquela deliciosa tarte de amora. Até já tinha aboca cheia de água.
A tarte estava no parapeito da janela a arrefecer. Vá-se lá saber porque é que as pessoas têm o hábito de fazer isso. A casa era alta, pintada de branco sujo. Vinha de lá um cheiro a velho e usado, provavelmente a livros. Deu-me a sensação de estar junto de Afonso.
Ouvi um miar bonito e sensual. Olhei. Os meus olhos ficaram arregalados. À minha frente estava uma gatinha cinzenta, com pêlo comprido. Os olhos dela eram de um azul mais bonito que o das orquídeas. Era alta e esbelta.
"Tarte ou gata? Sem dúvida as duas!"
Saltámos para o parapeito da janela e ambos nos lambuzámos na tarte de amora deliciosa.
Marta Zurrapa, 11.º A

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