sexta-feira, 18 de março de 2011

O "laboratório" de Carlos da Maia

Foi nessa noite de luar em que se ouviam os lobos a uivar do cimo da grande montanha que segui o meu neto, o meu inteligente neto, Carlos, que ia na sua bicicleta, muito apressado, como se estivesse assustado. Levava uma cesta que parecia ser pesada. Desconfiado, decidi segui-lo. Aquele corajoso rapaz deveria estar a tramar alguma.
Fui a pé para que não me ouvisse. Ao chegar, encostou a bicicleta com muito cuidado ao muro verde de musgo, para que não fizesse barulho. Pé ante pé, rodou muito devagar a maçaneta da porta ferrujenta da chuva, e ao empurrá-la ouviu-se um chiar muito forte que, de súbito, assustou os morcegos adormecidos nas telhas quebradas daquela casa que parecia estar abandonada e assombrada.
Escondi-me atrás de um grande arbusto, para que não me visse, sem fazer muito barulho. Ouvia-se apenas o estalar de algumas folhas, mas Carlos já tinha entrado. No meio da escuridão daquela casa assustadora, o meu neto acendeu uma vela que lá havia para iluminar o que quer que fosse que ia fazer. Esperei horas a fio, era quase meia-noite e eu continuava ali à espera para matar aquela curiosidade que pairava na minha cabeça. Passadas muitas horas finalmente saiu, já sem a cesta. Esperei que pegasse na bicicleta e assim que se foi embora tive a oportunidade de entrar. Enchi-me de coragem e empurrei muito devagar aquela porta que chiava ensurdecedoramente. Muito sorrateiro, entrei naquela habitação inabitável, com um odor insuportável a sangue (parecia-me a mim). Ouvi qualquer coisa a mexer. Rápido, levei a mão ao bolso para retirar o meu isqueiro prateado e procurei a vela que o Carlos tinha acendido. Muito apressadamente, consegui iluminar aquela sala enorme e perceber que o barulho que ouvira era de uma ratazanas que ali andavam à procura de algo para comer. Foi então que olhei para cima e vi filas de animais pendurados, com a barriga aberta, daí todo aquele cheiro a sangue. Aquele meu neto era realmente um amante da ciência.
Observei tudo o que havia naquela casa: carneiros, bezerros, cães, gatos, galinhas, ratos, rãs, lagartos,... Tudo ali havia. Foi então que ouvi:
- O que está aqui a fazer? Bem que ouvi barulhos enquanto vinha para cá, Sr. meu avô! - Era Carlos, tinha-me apanhado no seu local de trabalho, ou poderei dizer, no seu esconderijo.
Cristiana Rebelo e Nuno Teles, 11.º B

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