sexta-feira, 18 de março de 2011

E assim foi a minha infância, quando era apenas apelidado de Bonifácio.
Depois veio a melhor fase da minha vida, quando me mudei para Lisboa com o meu dono. A maior metrópole do país ao meu dispor, onde a cada esquina havia gatas cada vez mais belas, cada uma com uma diferente cor de pêlo, mas todas com pêlo muito mais suave e bigodes muito mais sensuais e maiores que os meus.
Mas nesta cidade para ir ter com as minhas gatinhas tinha de atravessar rios de pedra por onde passavam caixotes com rodas, puxados por cavalos. Parecendo que não, até para um gato era perigoso atravessar. Outra desvantagem desta metrópole em relação à maravilhosa Quinta de Santa Olávia era o cheiro nauseabundo a urina nos becos perto dos botequins.
Pode dizer-se que o nome D. Bonifácio de Calatrava, que soa muito bem ao ouvido felino, me ajudou muito nas empresas amorosas, e enquanto conversava com as minhas conquistas sobre os mais variados assuntos, desde o Romantismo até à Geração de 70, passava um rato a 50 metros de nós, e, com o meu ouvido apurado, ouvia os passinhos daqueles pés pequeninos e aquele barulho irritante que fazem com a boca, saltava para cima dele e oferecia à minha dama um belo jantar.
Agora, de volta à Quinta de Santa Olávia, vai ser difícil continuar com essa vida, mas vou tentar não envelhecer e conhecer mais umas gatas campestres.
André Rosado, 11.º A

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