terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Torres de marfim



Desde o início dos tempos que o ser humano se preocupa em encontrar maneiras de passar o tempo, formas de entretenimento. Entretenimento esse que frequentemente esteve associado às massas e a acontecimentos com muito público na assistência. No entanto, nos últimos anos, esta ideia tem vindo a inverter-se. O entretenimento de massas e o convívio que a ele sempre esteve ligado foi sendo substituído por um entretenimento sem sair de casa e por um convívio quase "falso", através de meios de comunicação mais modernos.
As pessoas já não querem sair de casa para ver um espectáculo ou tomar um café com amigos. Querem trazer o espectáculo em DVD para casa, onde o podem ver sozinhas; fazer um café na sua Nespresso e trocar novidades no Facebook com os dez amigos que conhecem e os duzentos que nunca viram na vida. É triste, mas todos nós somos atacados por esta presunção dos tempos modernos, que nos tenta roubar o prazer de sair de casa num Domingo à tarde.
Senão vejamos, para um amante de cinema, as diversas salas ao longo do país sempre foram um local de culto, onde para além de se assistir a um bom filme, podíamos ainda sentir as reacções do público, as gargalhadas, os suspiros, as emoções em geral. Porém, actualmente o espírito da sala de cinema foi trocado por Home Cinemas e pipocas de microondas, tal como o ambiente infernal de um estádio de futebol foi trocado pela transmissão de jogos em HD, que até permitem desligar o som das claques.
Por outro lado, é muito mais assustador quando as pessoas trocam um café ou um passeio com os amigos por um convívio falso, virtual e ingrato através das mais diversas redes sociais. É verdade que quase todos as usamos, mas talvez devêssemos fazê-lo como um complemento e não como um substituto de algo que é real.
Assim, todos devemos reflectir sobre este comportamento e pensar que o espaço doméstico é importante, mas que o espaço colectivo não pode nunca ser esquecido sob pena de nos deixarmos empobrecer.
Rui Poeiras, 12.º A

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Belluno






Zaira Pellin é uma aluna que escolheu estudar na nossa Escola durante este ano lectivo integrada no programa de intercâmbio Intercultura-AFS, para conhecer melhor a língua e a cultura portuguesas. Está na turma de 11° A, e publica, no blogue e no jornal, informações relativas à sua cidade e região de origem, Belluno, no Norte da Itália.

Belluno, como Pádua, Vicenza, Verona, Rovigo, Treviso e Veneza, é um distrito do Veneto, província do nordeste de Itália. O Veneto tem várias localidades de interesse turístico como a famosa Veneza, capital da região, Verona, cenário da célebre tragédia de amor de W. Shakespeare “Romeu e Julieta”, ou Pádua, centro universitário com um grande património artístico.

Perto destes grandes centros culturais e turísticos fica a pequena cidade de Belluno, cuja riqueza é menos visível e conhecida.
A história desta terra é caracterizada principalmente por séculos de resistência a numerosos invasores. Os primeiros habitantes remontam à pré-história e a seguir foram os “Paleoveneti”, os Celtas (que chamaram à cidade “Bellodomum” ou “Fortaleza luminosa”, de onde deriva o actual nome de Belluno), os Romanos e os Bárbaros; mais tarde os imperadores alemães, os senhores das terras limítrofes que disputaram a zona até que Veneza a dominou durante quase três séculos; Napoleão Bonaparte; e, mais recentemente, foi campo de batalha nas duas guerras mundiais e grande protagonista da resistência face às tropas alemãs de Hitler, de cujos acontecimentos ainda hoje se podem ver vestígios na encosta da montanha. Todos os invasores deixaram atrás de si um rasto de sangue e dor que contribuiu para formar o carácter aparentemente frio das pessoas originárias desta região, já habituadas às numerosas dificuldades da vida nas zonas altas.
Para além da sua história, a riqueza do distrito está no território, que se estende entre vales estreitos e montanhas altas, que proporcionam vistas de cortar a respiração! Mas a verdadeira pérola são os Dolomitas , declarados em 2009, Património Mundial da Unesco. O comité justificou deste modo a sua decisão:
“ I nove sistemi montuosi che compongono le Dolomiti comprendono una serie di paesaggi montani unici al mondo e di eccezionale bellezza naturale. Le loro cime, spettacolarmente verticali e pallide, presentano una varietà di forme scultoree straordinaria a livello mondiale. (…) I paesaggi sublimi, monumentali e carichi di colorazioni delle Dolomiti hanno da sempre attirato una moltitudine di viaggiatori e sono stati fonte di innumerevoli interpretazioni scientifiche ed artistiche dei loro valori.”
( “Os nove sistemas montanhosos que compõem os Dolomitas integram uma série de paisagens montanhosas únicas no mundo e de excepcional beleza natural. Os seus cumes, espectacularmente verticais e claros, apresentam uma variedade de formas escultóricas extraordinária a nível mundial. (...) As paisagens sublimes, monumentais e cheias de cores dos Dolomitas sempre atraíram uma multidão de viajantes e têm sido fonte de inúmeras interpretações científicas e artísticas das suas riquezas.”)

A cidade em si é diferente, longe do esplendor daqueles lugares. É o centro político e religioso do distrito, de facto os cargos políticos distritais eo bispo estão sediados na cidade. O centro histórico é um alternar de épocas. Encontram-se , de facto, portas medievais nas muralhas ao lado de edifícios renascentistas, ou igrejas de estilo românico por fora e de estilo barroco no interior. É também o principal ponto de encontro de jovens, porque a maior parte das lojas, bares e discotecas estão situados perto do centro.
Zaira Pellin
(tradução do original escrito em italiano)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

AGUARELAS DA VILA II


O PINTOR
24 de Fevereiro de 2009
Caro diário,

Já ninguém se lembra do velho pintor. Há anos atrás os meus quadros eram elogiados e as filas de espera para os retratos infinitas... e agora?
Hoje o meu dia foi passado como todos os outros, a limpar os pincéis, nunca mais utilizados, só para relembrar os meus anos de apogeu, e a rabiscar numa tela um futuro quadro, um futuro fracasso!
O meu vestuário já perdeu a graça perante os outros habitantes da aldeia. O pincel atrás da orelha, a boina estilo francês e as camisas salpicadas das recordações das minhas antigas obras de arte já não transmitem respeito nem levam as crianças a ter consideração por mim.
Antigamente era solicitado para ir expor as minhas obras, os meus quadros à escola da aldeia e às do concelho, agora já nada tem valor nem brilho.
Para os jovens de hoje em dia já não sou o Sr. Pintor, como era há anos atrás, sou apenas mais um velho que ocupa espaço na aldeia, que pensam ser só deles.
Será que algum dia voltarei a ter a consideração dos que me rodeiam?
Não precisas de responder, querido diário, esses tempos já lá vão... há muito tempo.
Carina Alves, 11.º B


A ALCOVITEIRA

Quinta-feira, 18 de Setembro de 2010

"Mê" querido diário,

Esta manhã quando estava à janela passou o senhor "Antóino" na rua. Ainda lhe dei os bons dias, mas ele nem respondeu. Estava todo bem vestido, com roupa lavadinha. Pensei logo assim: "Mas onde é que ele vai?"
Vai daí, liguei à prima Aurora, que é cunhada do Galeano Gaudêncio, que é tio do afilhado da mulher do António, mas ela não sabia nada.
Desci as escadas e fui falar com a irmã dele, que é vizinha da Maria da Graça Cabeça Oca. Então não é que ele tinha ido ao médico do coração!
Fiquei espantadíssima! Então o homem nasceu em 1932, foi ao Ultramar, andava aí tão rijo rua acima, rua abaixo e agora dói-lhe o coração...
Depois fui à taberna da Guilhermina para saber se ele tinha ido sozinho. É que podia dar-lhe qualquer coisa na carreira, ainda morria e depois pensavam que estava a bater uma sorna e não o chamavam. Mas ao que parece a filha mais velha foi com ele.
Mais tarde fui ter com a senhora dele. Ninguém abriu a porta, por isso fui à horta dela. Quando lá cheguei ela estava plantando sementes de feijão.
Então disse-lhe assim: "Atão comadre, que está fazendo?"
Ao que ela responde: "Estou plantando feijão."
Depois perguntei-lhe: "Atão o seu homem está mal do coração?"
Vejam lá o que ela me disse: "Você deixe mas é de ser quadrilheira e meta-se na sua vida, está a ouvir?".
Eu até levei a mal! Anda uma pessoa um dia inteiro a ver se o outro está bem e tem de ouvir uma coisa destas?! Amanhã vou à da comadre Piedade para lhe contar isto. Tenho a certeza que ela vai ficar admirada!
Rute Azenha, 11.º B

O POVO

Povo... Quem é o povo? Bem, o povo... sou eu, és tu, somos todos nós.
Se eu pudesse colar outra palavra à palavra povo seria união. Sim, união, pois apesar das riquezas, das pobrezas, das alegrias ou das tristezas, somos um! É verdade que não tenho muita experiência, pois tenho apenas 16 anos, mas o povo português que vejo nas pequenas aldeias é assim.
Eu sei que devem estar a pensar que não é bem assim porque as coscuvilheiras, as corta-casacas, os bêbedos, os endireitas e os curandeiros dessas pequenas aldeias normalmente têm algumas brigas ou zangas. Mas eu estou a olhar mais além.
No povo português tenho visto amizade, hospitalidade, compadecimento, bebedeiras... Sim, grandes bebedeiras, mas muitas alegrias.
O povo português é trabalhador, é agricultor, caçador, pescador, amigo do bolso, mas grande dador. Alguns médicos, outros professores... Enfim, somos nós. Somos aquilo por que nos esforçamos, nem que seja apenas sustentar a família.
Como diz a minha avó, antigamente uma sardinha tinha que dar para ela e para os seus oito irmãos. Eram outros tempos e é por isso que eu aprecio tanto este povo, este povo português.

Daniel Nunes, 11.º E




segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Liberdade em Portugal

A liberdade pode ser definida, de forma positiva, como autonomia e espontaneidade de um sujeito racional. Também a podemos considerar uma condição fundamental na vida de um ser humano.

Há aproximadamente 35 anos atrás, a população portuguesa queixava-se de falta de liberdade devido à opressão salazarista, seguida da opressão de Marcelo Caetano. A verdade é que, com a revolução de Abril, os portugueses conquistaram liberdades individuais e colectivas, tais como a liberdade de expressão ou a possibilidade de formar sociedades/grupos, o que, no tempo do Estado Novo, poderia ser visto como um crime ou uma forma de revolução. Houve, de facto, uma conquista bastante importante com o 25 de Abril, talvez a mais importante de todas, e a população portuguesa parece ignorá-la.

A partir do 25 de Abril, a população portuguesa ganhou o direito e a liberdade de escolher os seus líderes, ou seja, os seus dirigentes. Aparentemente, os portugueses não ligam muito a este direito, uma vez que atingimos taxas de mais de cinquenta por cento de abstenção nas várias eleições que ocorrem em Portugal, sejam elas legislativas, autárquicas ou europeias.

Se os portugueses não votam, então não usufruem das suas liberdades. Logo, será que deverão ser merecedores de todas as liberdades que possuem? Deverão poder queixar-se se o líder eleito não agir de forma correcta? A resposta a estas questões é óbvia.

Em suma, a liberdade é condição essencial à vida dos seres humanos, mas deverá também ser merecida e bem usada.

Regina Manuelito, 12.º A

Cidadania

A cultura de massas obriga, hoje em dia, a um culto do egocentrismo. Este facto está a tornar a sociedade num conjunto de "eus", completamente independentes entre si, destruindo qualquer conceito de cidadania e associativismo.
A participação na vida em sociedade e, principalmente, nas decisões e opiniões nacionais, é cada vez menor. Todos se demitem dos seus deveres (e também direitos) de contestarem o que não concordam, tanto pelo facto de, para isso, terem de se mexer, como pelo medo das represálias. Assim, as relações interpessoais degradam-se, pois se não existem opiniões, não existe mudança, só gente que cala e consente, "não vá o outro pensar que eu...".
Ninguém se revolta contra nada: sistema educativo, de saúde, política, justiça. Mas, nas costas, todos reclamam. E sempre que alguém se "chega à frente" para alterar seja o que for, acaba por, a qualquer momento, dar um passo atrás.
Tenho uma leve sensação que estamos a ser governados por gente algo ignóbil, talvez até estejam à procura dos piores para chegarem mais alto e terem mais responsabilidades. Porquê? Não sei. Talvez aos bons dê muito trabalho.
Beatriz Ropio, 12.º A



Ser cidadão implicava, na Grécia Antiga, intervir na vida da cidade, não só intervir como também participar activamente na legislação e noutros assuntos essenciais para a sociedade. Contudo, nos dias de hoje, com as dimensões actuais dos países e a atribuição do termo cidadão a qualquer pessoa, independentemente do seu sexo, da sua raça, condição social, isso tornou-se praticamente impossível, pois para que todas as pessoas pudessem dar a sua opinião sobre, por exemplo, as leis teria de existir um constante referendar de todas as propostas.
Assim, e numa tentativa de democratizar a intervenção popular na gestão do seu país, foi criado este sistema de participação indirecta no qual, de quatro em quatro anos, escolhemos quem nos vai representar. Ora isto impede que uma pessoa em particular possa apresentar propostas, pois imagine-se como seria se os senhores deputados tivessem que ouvir todas as ideias de toda a gente que considerasse ter boas propostas para o país.
Vivemos num país democrático, mas é extremamente difícil sermos ouvidos. E, pior que isto, é o facto de muitas pessoas renunciarem ao seu direito ao voto, deixando assim que as restantes decidam por elas. É que quem não vota, também não se pode queixar.
Gustavo Galveias, 12.º A

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Biografia de Fernando Pessoa

A 13 de Junho de 1888, nasce Fernando António de Nogueira Pessoa, no Largo de S. Carlos, em Lisboa, filho de Joaquim de Seabra Pessoa e de Maria Madalena Pinheiro Nogueira Pessoa.
Aos 5 anos, em 1893, Pessoa sofre com a morte do seu pai, vítima de tuberculose, tal como o seu irmão, que morre uma ano mais tarde. Pouco tempo depois das perdas marcantes na sua infância, a sua mãe decide voltar a casar e, em 1895, contrai matrimónio com João Miguel Rosa, cônsul em Durban, na África do Sul. Sendo a sua mãe a pessoa de quem mais gostava, Fernando escreve os seus primeiros versos a ela dedicados:
"Eis-me aqui em Portugal,
terra onde nasci,
por muito que goste dela,
ainda gosto mais de ti."
Em 1896, Fernando Pessoa parte com a sua mãe para Durban, onde viria a viver, também com o seu padrasto e 4 meios-irmãos. É em Durban que inicia os seus estudos, frequentando um colégio de freiras irlandesas. Em 1899 entra para o Liceu de Durban e, em 1903, com apenas 15 anos, presta provas de admissão para entrar na Universidade do Cabo da Boa Esperança, sendo-lhe atribuído o prémio Rainha Vitória para o melhor ensaio em inglês.
Em 1905 regressa a Portugal e vai viver com a sua avó Dionísia e duas tias. Matricula-se no curso de Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, mas retira-se em menos de um ano. Pouco tempo depois, em 1907, a sua avó morre e deixa-lhe uma herança, que Pessoa utiliza para abrir uma tipografia. Esta é a sua primeira tentativa de ganhar dinheiro, no entanto, revela-se um fracasso, visto que, rapidamente a empresa abre falência.
Não se interessando muito pelo dinheiro, Fernando começa a trabalhar como correspondente comercial, traduzindo cartas para inglês e francês, apenas para ganhar o indispensável. Trabalhou, também, como publicitário, sendo pioneiro na campanha da Coca-Cola em Portugal e o autor do slogan da marca: "Primeiro estranha-se, depois entranha-se".
Já com 30 anos, Pessoa vivia em casa de parentes e em quartos alugados, e ainda não tinha encontrado o amor, até que conhece Ophélia, uma bela jovem de 19 anos. Nos 9 meses seguintes encontram-se secretamente nos eléctricos de Lisboa, mas Fernando termina o relacionamento.
O escritor dedica-se inteiramente à literatura, sem nunca esquecer as suas idas diárias ao barbeiro Manassés para aparar o seu bigode.
Intelectual, Pessoa escreve milhares de obras, desejando superar Camões e outros escritores maiores. Nove anos passaram e Fernando Pessoa não esquece Ophélia, o seu grande amor. Assim, em jeito de provocação, envia-lhe um postal com uma fotografia sua a beber ginga e a seguinte dedicatória: "Em flagrante delitro". Reataram a relação por mais algum tempo.
Fernando Pessoa morre a 30 de Novembro de 1935, vítima de cirrose hepática, proferindo as seguintes palavras: "I know not what tomorow will bring".
Na sua última morada, Rua Coelho da Rocha, actualmente uma casa museológica, deixou uma enorme colecção literária e uma arca com milhares de obras por publicar.
Em vida, o escritor permaneceu anónimo em Portugal, sendo apenas Mensagem a sua única obra publicada em português. Depois de falecer, concretizou o seu sonho, tornando-se um supra-Camões, com milhares de obras publicadas em várias línguas e muitas outras por publicar.
Liliana Madeira e Luís Ferrolho, 12.º B

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Terreiro do Paço

O sol brilhava, as gaivotas já voavam e o Tejo tinha acordado. Ali estava eu, sozinho, aproveitando o curto espaço de silêncio que Lisboa ainda me dava, enquanto ouvia os pequenos e poucos sons naturais da cidade. Como sempre, retirei o meu cartão rasgado de cima das minhas míseras vestes, levantei-me, agarrei no Salsicha e começámos a nossa longa caminhada diária, que principiava no Paço e terminava no Rossio. A Augusta ainda estava calma, apenas se encontravam um ou dois comerciantes que, com mais sorte que eu, conseguiam segurar as suas lojas em plena crise e invasão chinesa. Já perdi a conta às vezes em que me aleijei na calçada da Augusta. Os ricos passam por aqui com os seus sapatos Prada e não sentem nem as pedras perigosas que me ferem os pés, nem os sentimentos com que pessoas com eu e outros iguais a mim se arrastam por aqui. O Salsicha corre, contente, à minha frente. O seu passatempo preferido é entrar dentro das barracas de cartão dos outros mendigos e roubar o que encontrar. Depois vem entregar-me o que encontra e rebola-se a meus pés, como quem pede uma pequena valoração... Fui eu que lhe ensinei! Quando perdi a minha loja e ficámos sozinhos, sem nada, tivemos que nos desenrascar... Eu não sabia tocar nada, nem fazer nada que levasse as pessoas a darem-me uma moeda de cinquenta cêntimos, simplesmente para acalmarem a sua consciência, por isso, como éramos profissionais a caçar, ensinei-o a caçar outras coisas... Se é que me faço entender...
Com os trocos que me trouxe o Joaquim, entrei numa pastelaria para comprar um pastel de nata, mas senti-me de imediato observado. Numa mesa redonda encontravam-se duas senhoras que eram tão bonitas como a ignorância que traziam. Para variar, comentários para aqui comentários para ali... Olhei para o Salsicha que estava à porta, provavelmente pensando quando é que iria comer. Paguei e voltei ao meu percurso. Estava quase a chegar ao meu local de lazer, como costumo dizer ao Salsicha. O meu canto era sentado na primeira fonte do Rossio. Adorava aquele sítio! A água refrescava-me, a música das árvores relaxava-me e o Teatro D. Maria fazia-me sonhar com o dia em que voltaria a entrar lá. Sentei-me, como sempre, coloquei uma tabela no pescoço do Salsicha que dizia "Ajudem-nos". Tabela esta com a qual ele adorava brincar... Ele também se sentou a olhar para a frente e ali ficámos à espera de alguém para nos ajudar ou de algo que nos fizesse lutar.
João Monteiro, 10.º B

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A minha casa é a rua



"Pela clareira que se abria, o vagabundo, de mãos nos bolsos das calças, vinha, despreocupadamente, avenida abaixo."
Este vagabundo tinha, estranhamente, um ar feliz, um sorriso na cara. A vida dele era sempre o mesmo, acordava cedinho com o barulho dos carros que passavam por perto, levantava-se e caminhava todo o dia. Passava dezenas de vezes naquela avenida e descia-a sempre da mesma maneira, despreocupadamente e de mãos nos bolsos das calças que, tal como ele, estavam velhas e gastas. No fim do dia lá ia ele para o seu colchão que tinha achado há um tempo no lixo ali por perto.
Um dia esta sua rotina mudou para sempre. Quando estava prestes a adormecer chegaram perto do seu colchão dois jovens, bem falantes. Conversaram algum tempo, uma conversa agradável. O vagabundo contou-lhes como gostava de ser livre, como era fascinante caminhar pela cidade todo o dia, encontrando sempre coisas novas e maravilhosas. Os rapazes mostraram-lhe como era bom ter uma casa, uma família, como era bom ser amado. Despediram-se e disseram que voltariam. Voltaram todos os dias que podiam. Criaram uma amizade com o velhote. Um dia perguntaram-lhe:
- Lembras-te da nossa primeira conversa? Nunca pensaste sair da rua, ter uma casa e uma família?
O velhote respirou fundo e disse de uma forma profunda:
- A minha casa é a rua, é o mundo. Não troco esta casas luxuosa por nada. A minha família são todas as pessoas que passeiam pelas ruas, que passam por mim e me dizem "Olá", são todos os animais, bichos que vivem à minha volta. Amo tudo isto, e acredito que o mundo me ama, por mais fome que eu passe e por muito mal que eu durma. E amo-vos a vocês porque são meus amigos, animam a minha vida desanimada e entraram na minha casa sem preconceito, compreendendo o meu lado.

Gonçalo Inácio, 10.º B

"Pela clareira que se abria, o vagabundo, de mãos nos bolsos das calças, vinha, despreocupadamente, avenida abaixo."
Vinha, apesar de tudo, alegre, talvez vítima do veneno da alegria que é o vinho. Os bolsos vinham rotos, os pés descalços, que caminhavam levemente, como se a cada passo que dava algo de bom acontecesse.
Aproximei-me, receoso, pois não o queria fazer. Mas os pés traíram-me, talvez movidos pela curiosidade. Perguntei-lhe como se chamava. A resposta dada soou-me estranho: "Não sei". O sorriso nos lábios do homem, aquela felicidade intensa fez-me esquecer o seu aspecto, e por momentos senti que ele era realmente feliz. Mas este sentimento fez-me ficar à conversa.
Tentei conversar e conhecê-lo. O homem movia-se rapidamente, sem conseguir parar. Ria-se de tudo, dir-se-ia que estava louco. Até que lhe fiz a derradeira pergunta: "Não te sentes infeliz por viveres assim?"
O sorriso nos lábios do homem evaporou-se imediatamente, como se eu o tivesse arrancado. Parou. Olhou-me com raiva e depois desdém. Pedi-lhe desculpa, caso o tivesse ofendido. Ele recomeçou a sua caminhada, e soltou duras palavras, sem um traço de alegria: "Vocês não sabem o que fazem". Percebi que não estava louco quanto mais embriagado. Nesse momento, algo me fez querer conhecê-lo mais a ele, e à sua história. Mas ele afastou-me.
Na noite seguinte, passei novamente pelo local onde o encontrara. Olhei, procurei. Vi dezenas de sem-abrigo, deitados no chão. Até que olhei para o cimo da avenida e o reencontrei, alegre, descalço, a assobiar uma canção há muito esquecida. Falei com ele e ele falou comigo. Passei a ir ter com ele todas as noites e consegui conquistar a sua confiança.
Por muito que as pessoas o vissem como mais um vagabundo, um pedinte, eu via-o como um homem, com uma história marcante por detrás.
Uma noite pedi-lhe que me contasse a sua história. Mais uma vez, o seu sorriso se desvaneceu, e começou a falar com seriedade. Chamava-se Daniel, tinha 65 anos e fora, outrora, deputado na Assembleia da República. Não tinha filhos e um dia deixara tudo, quando se desiludira com a política, que ele pensara ser um trabalho nobre. Um dia viu um sem-abrigo na rua, que, como ele, também tinha tido tudo, e disse-lhe: "Não sabes o que perdes". Desiludido, sentiu-se mal consigo próprio, e instalou-se na avenida. Desde então andava feliz.
Ontem, enquanto estava sentado comigo, deram-lhe uma esmola. Senti-me envergonhado por, tal como a pessoa que lhe dera a moeda, também ter pensado que ele necessitava de algo, quando, afinal, tinha tudo.
Ana Saltão, 10.º B

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Rua Abaixo



"Pela clareira que se abria, o vagabundo, de mãos nos bolsos das calças, vinha, despreocupadamente, avenida abaixo."

O seu aspecto, no mínimo, diferente, funciona como campo magnético que atrai os olhares da maioria dos cidadãos ditos normais.

E lá vai ele, rua abaixo, despreocupadamente caminhando, pisando a calçada do passeio como se tivesse de o fazer para todo o sempre, sendo constantemente bombardeado por olhares de pena e até mesmo olhares de medo.

Teve uma vida triste...

Com vinte sete anos foi enviado para Angola para a guerra do Ultramar, onde perdeu um dedo e a sanidade mental.

Voltou para casa e não tardou a arranjar problemas. Foi preso durante seis meses. Foi abandonado pela família, devido aos seus problemas de alcoolismo.

Hoje não lhe resta nada... apenas um molho de fotografias ainda a preto e branco, em péssimo estado, fotografias essas que ele vê e revê dezenas de vezes por dia. Fazem-lhe lembrar os anos felizes que viveu com a sua família, os camaradas de Angola, as ruas e ruelas onde brincava com os seus amigos...fazem-lhe lembrar os tempos em que era alguém.

E lá vai ele... pisando a calçada como se tivesse de o fazer para todo o sempre.

João Bentes, 10.º A
Esta vida
Não tenho bem a certeza do que me trouxe até esta vida, mas acho que tudo começou quando era jovem.
Lembro-me de começar a discutir com os meus pais por volta dos dezasseis anos, de me revoltar com eles por tudo e por nada, mas pelo que via na televisão pensava que era normal.
Recordo-me de chegar a casa ao sábado de manhã, vindo de uns quantos bares que já nem me recordo onde ficam, com um cheiro intenso a tabaco na roupa e na pele e com um bocadinho a mais de álcool no sangue do que era suposto ter e a minha mãe a gritar comigo e eu a fechar-lhe a porta do quarto na cara.
Tudo piorou quando comecei a faltar às aulas para ir beber uns copos com o pessoal, pessoal que agora me apercebo que não era uma companhia boa, que me levava apenas para maus caminhos.
Tempos mais tarde já quase não ia a casa, só para dormir. Quando os meus pais descobriram que eu andava por estes caminhos, puseram-me fora de casa.
Agora, com os meus pais na América a trabalhar, a relação entre nós não podia estar pior, já nem uma carta recebo.
Agora passo a maior parte dos meus dias deitado numa caixa de cartão na rua e a vasculhar caixotes do lixo à procura de comida.
Se me perguntarem se me arrependo da vida que levei, a minha resposta será claramente que sim.
André Rosado, 10.º A
História de um sem-abrigo
Acordei de manhã com o sol a bater-me na cara. Estava muito calor logo cedo. Vinha um dia daqueles em que não sabemos onde nos havemos de enfiar.
São oito e cinquenta, faltam dez minutos para que as meninas nos venham dar o pequeno-almoço e o almoço. Não sei se já o disse mas sou sem-abrigo e vivo na rua há mais de cinquenta anos. Já estou habituado à rotina da rua e agora, se fosse viver para uma casa, não saberia os hábitos que se usam.
Vou contar-vos o que se passou há cinquenta anos atrás e a razão pela qual estou a viver na rua.
Estava um dia tal e qual como hoje, um dia com muito calor, mas nessa altura era diferente, vivia em casa e não o sentia como o sinto agora. Nessa altura era tudo bem diferente. Eu tinha uma filha adorável que andava há dois anos a tirar o curso de Direito. Eu trabalhava num banco e, embora a minha mulher tivesse morrido há um tempo atrás, nós éramos felizes.
A minha filha chamava-se Sofia e tinha vinte anos na altura. Era uma menina que não dava problemas a ninguém, era um anjo. Dávamo-nos muito bem até que um dia algo terrrível aconteceu a esta vida de sonho que se tornou num vida de pesadelo.
No dia dois de Setembro, pelas oito horas da manhã, fui trabalhar como fazia todos os dias, mas desta vez algo tinha mudado. O banco onde trabalhava encontrava-se fechado e a polícia estava à porta com o Sr. Jerónimo, chefe do banco. Aproximei-me e fui ver o se passava. Se fosse hoje, não iria pois nesse dia recebi a pior notícia da minha vida, fui despedido. O banco tinha sido assaltado e ido à falência. Quando recebi a notícia senti que o coração parava, pois este emprego era o meu sustento e o da minha filha. Fiquei tão mal que mergulhei no álcool. Nessa tarde apanhei a maior bebedeira da minha vida. Não tinha consciência da minha situação na altura. Quando dei por mim já estava em casa, mas não encontrava a minha filha. Não me lembro de nada, só de ter atendido o telefone e ter recebido a notícia de que a minha filha estava no hospital. Tinha tido um acidente de carro.
Depois de tudo isto, a minha casa foi hipotecada, todos os meus pertences foram-me tirados para pagar as contas em atraso.
É esta a história de um sem-abrigo que há cinquenta anos era feliz e agora vive na rua, sem nada nem ninguém.
Patrícia Ferreira, 10.º A
Visto com outros olhos
Tinha uma bela vida, tinha casa, tinha carro, tinha trabalho num centro comercial para os lados de Cascais. Pode dizer-se, agora, que tinha tudo e o que tinha, para mim, era como ser rico. Olhando agora para mim, já não visto as mesmas roupas de antes, roupas de marca, caríssimas. Agora sou obrigado a usar todos os dias os mesmos trapos.
Eu era feliz naquela altura, estava prestes a pedir em casamento uma certa rapariga por quem me apaixonei, mas tudo desabou do céu e eu caí no buraco escuro e frio a que chamamos rua. Sim, já devem ter percebido que sou um sem-abrigo. Pensando bem, não é assim tão mau viver na rua, já me habituei, não tenho preocupações, responsabilidades ou obrigações. Vivo descontraído e relaxado. O grande problema é a fome, é difícil contê-la, e o frio no Inverno, também é difícil suportá-lo. Tomo banho de mês a mês nas piscinas municipais e outras vezes infiltro-me nas casas de banho dos centros comerciais.
Após ter perdido o emprego e ter ficado sem dinheiro para pagar a casa, a minha única opção foi ir viver para a rua. Foi horrível ao início, mas estou nesta situação há três anos e já me acostumei. Assim sendo, já não é tão mau, é da maneira que acabo a minha vida a passear e a ver o stress das outras pessoas enquanto eu vivo relaxado, descontraído, sem ninguém a chatear-me.
Carina Frade, 10.º E
A minha história
Na minha história de vida não há muito para dizer. Nunca fui rico, mas também nunca fui pobre de todo, tinha algumas dificuldades como toda a gente. Nunca fui bom na escola, aliás nunca fui bom em nada. Era bom a criar sarilhos mas era mau a resolvê-los. Quando fiz 13 anos saí da escola, aquilo não era feito para mim e, assim, fui ajudar o meu velho na oficina dele. Ele podia estar velho, mas era o melhor mecânico da cidade e eu não queria ficar para trás. Então comecei a aprender tudo sobre carros. A vida nem estava a correr mal de todo, dava para viver.Quando fiz 19 anos o meu pai faleceu. Fiquei sozinho, não tinha irmãos e a minha mãe morrera durante a minha infância. O meu pai era tudo o que eu tinha.
Como a oficina tinha ficado a cargo de um amigo do meu pai e este não gostava muito de mim, não durei lá muito tempo, fui mandado para a rua de um momento para o outro.
Não consegui arranjar trabalho, pois ninguém queria uma pessoa só com o 5.º ano. Não consegui arranjar dinheiro para a renda de casa e desta vez fui literalmente mandado para a rua. Não bastava ter perdido o meu pai, também perdi o emprego e o sítio onde dormir.
Agora, passados três anos, com 23, tenho os mesmos hábitos: durmo sempre no mesmo banco, já está reservado para mim. À hora de almoço vou passear pelo jardim à espera que, como por magia, me caia alimento à frente. À tarde passeio pelo jardim até ir dormir para no dia seguinte acordar para mais um passeio.
André Grilo, 10.º E

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Descrição


E a brisa fresca que soprava com grande intensidade parecia caducar todo aquele arvoredo secular. As folhas que outrora resplandeciam e reflectiam a luz do Sol, eram agora coisa nenhuma. Chegava o Outono e o mar agitava-se como se estivesse irritado, demonstrando toda a sua fúria. As ondas sucediam-se e o mar revolto adquirira um tom mais escuro e mais intenso. As gaivotas que habitualmente pairavam no ar, esperando eternamente pelo marisco, tornavam-se agora a maior presa das águas irreverentes mas belas. O cheiro a maresia aguçava o esplendor de toda aquela paisagem rejuvenescida, jovem. O farrapozinho de névoa, ao longe, formava um contraste surpreendente de cores e engrandecia o cenário de fundo dramático. O céu azul estava agora, lentamente, a ser preenchido por um conjunto de cores quentes e frias, dotando a imagem de um colorido fantástico e enternecedor. Era o arco-íris, um espectáculo só observável nesta fase do ano. A luz, não muito intensa, penetrava no arvoredo, clareando-o e esverdeando-o. Os pássaros chilreavam, os cães ladravam e os gatos miavam, compondo uma melodia sem igual no panorama nacional de música animal.
Filipe Margaço, 11.º B

Descrição


O sol quente deixava no ar o cheiro à estação que se aproximava lentamente e convidava a ficar ali, quieta, muda e pensativa. De vez em quando, uma brisa leve levantava-se e passava por mim tão calma quanto o tempo, triste e melancólica. Decidi levantar-me também e percorrer o caminho de madeira sólida mas gasta que levava até à praia. Estava tudo deserto e resplandecente, não queria sair dali. Mas quem quer retornar a uma realidade sombria e petrificada? Quem quer voltar a um mundo incolor em que a felicidade se avista apenas como frágil e efémera? O mar estava revolto e os barcos simples e fracos regressavam a terra. E ali nada era certo, só a promessa de um dia novo. Um pescador velho e cansado recolhe os materiais saturados do trabalho. Mas a pequena praia acaba por voltar à solidão. Ao longe, vê-se algo que se aproxima apressadamente, e, com as mãos na areia fina e imóvel, levanto-me. É alguém risonho e pacífico, revolucionário e promissor. Continua a aproximar-se cada vez mais depressa e eu cada vez tenho mais pressa. Oiço o vento que agora uiva e grita. Mas alguém se aproxima, alguém que tem de chegar rapidamente.
O futuro, talvez.
Beatriz Ropio, 11.º B

quarta-feira, 17 de março de 2010

CARTA À RELIGIÃO

Itália, vinte cinco de Fevereiro de mil quatrocentos e oitenta e sete

Cara Religião,

Como estás? Eu estaria óptima se me deixasses em paz por um momento, já que tu não fazes outra coisa senão arruinar o meu avanço.
Já te disse. A Terra não é o centro do universo! E nós é que profanamos...
Se me deixasses avançar nas minhas pesquisas, talvez pudéssemos conciliar-nos e criar um mundo com conhecimento e fé. Estes não são necessariamente opostos. Apesar de eu, Ciência, não acreditar na existência de um ou mais deuses. Dá-me tempo, preciso de factos.
Por favor, é o que eu te peço. A única coisa. Deixa os meus cientistas em paz. Deixa de os julgar e converter. Deixa de lhes matar o espírito. Conhecimento é aquilo que os move.
Ouvi dizer que vão inventar uma nova doutrina chamada "Renascimento". Gostei muito. Espero que te agrade e que as coisas melhorem. Até lá, deixo-te este pedido.

Cumprimentos da tua oposta,

Ciência

Ana Saltão, 10.º B

terça-feira, 16 de março de 2010

CARTA À MOTA

Madrid, 25 de Fevereiro de 2010

Olá, Mota,

Sou eu, o Carro! Estou a escrever-te porque ando muito mal. Tenho andado com uma grande gripe e espirro oléo para todo o lado. O meu dono levou-me à oficina para ver o que tenho. Com a cara que ele fez, não deve ser coisa boa. A cara dele parecia a de um rio muito revoltado.
Ando muito triste e ao mesmo tempo com muito medo. Acho que ele está a pensar vender-me e comprar outro carro giro e de melhor qualidade.
Espero que contigo esteja tudo bem. Ouvi dizer que te tinhas aleijado na roda de trás. Espero que já tenhas uma nova.
Sou capaz de aparecer aí na pista, no sábado, para te ver correr, ou melhor, para te ver ganhar o título europeu de Supercross. Tenho a certeza que ganharás, és muito rápida, mesmo!

Um pisca-pisca deste teu amigo,

Toyota

Tiago Oliveira, 10.º B

CARTA AO PIMBA

Caro Sr. Pimba,

Eu, o Rock, estou indignado. O senhor ridicularizou todo o meu ser e também o Sr. Pop, tentando transformar-se em nós.
Nós não admitimos batidas foleiras, acordeons e dançarinas com celulite. Aliás, nem dançarinas queremos (vá... só se forem bem gostosas).
O senhor é uma tristeza para o mundo da música e um desrespeito para com os antepassados.
Mas que raio de nomes: Tony, Emanuel, Marco Paulo... Por favor, tenha vergonha.
Fico à espera que se reforme.

O seu inimigo,

Rock

Miguel Ropio, 10.º E

Guitarrada, 20 de Fevereiro de 2030

Meu caro Pimba,

Hoje ganhei-te novamente! Estás a passar à história, "companheiro". Os bailaricos que animavas estão em extinção, a tua música não presta!
Já lá vão os tempos em que eras um sucesso entre os velhos, mas eles, coitados, já morreram. Nesses tempos entrei em depressão porque não era adorado por ninguém, mas com a ajuda do meu psicólogo, o Sr. Dr. Bateria, consegui ultrapassar esse momento.
Agora sinto-me bem, muito bem, sabendo que estás a perder o sucesso neste país. Aconselhava-te a "comeres" da minha música para veres o que é bom. O Pop e o Jazz já são dois amigos frequentes nos meus concertos e também já convidei o Fado e o House a visitarem-me um dia destes. Depois dos concertos vamos todos até à discoteca do House com passes vip e ficamos lá até amanhecer.
Tu nem sabes o que perdes em não ires aos meus espectáculos porque o Fado leva umas garrafinhas de vinho do melhor, para irmos bebendo ao longo do concerto...
Bem, assim me despeço, sem mais para dizer.

Rock

P.S. Peço imensa desculpa se te arruinei a vida, mas cada um por si!

Carla Barrelas, 10.º B

CARTA AO LIVRO

2 de Maio de 1994
Querido amigo livro Ética para um jovem,

Estou a escrever-te para te pedir que cá venhas visitar-me ao espaço Net de Vendas Novas.
Eu sei que andas muito atarefado a ler, mas podias tirar umas férias. Vinhas visitar-me, jogávamos Counter-Strike, ouvíamos umas músicas e depois íamos para a janela assobiar às miúdas MP4.
Tenho estado um pouco doente, porque apanhei um vírus Trojan Horse, por isso tenho tido umas valentes dores de ecrã.
Fui de urgência à Mediacap para ver o que se passava, mas felizmente não era nada de grave.
Então e tu? Ouvi dizer que tinhas estado para aí bem mal por causa de umas traças e uns bichos dos livros. Se me viesses visitar, apanhavas ar e limpavas esse mofo que aí tens acumulado.
Vá, adeus. Vê lá se apareces.
Teu amigo,

Toshiba Kawasaki Matakumba Matongo

P.S. Não tragas coisas para ler!!!

João Bentes, 10.º A


quinta-feira, 11 de março de 2010

CARTA AO COMPUTADOR

25 de Fevereiro de 2010
Querido Computador,

Desejo que se encontre em bom estado. Não lhe escrevo desde a sua última avaria que o levou a formatar e espero que ainda se lembre de mim.
É com tristeza que o informo que em breve me irei reformar, pois graças à sua amiga Internet já não tenho lugar em prateleira, gaveta, nem mala de ninguém.
Agora sempre que alguém precisa de pesquisar ou até mesmo ler algo para se distrair usa a Internet. Tantos anos ao serviço do Homem para agora não passar de um amontoado de folhas com "cenas secantes"!
A Internet também estará presente na minha festa de despedida, pois o Homem irá passar-lhe o meu posto de Presidente da Associação de Informação e Pesquisa.
Espero que possa comparecer. Gostaria de o ver.

Com os melhores cumprimentos,
Livro

Joana Pereira, 10.º A

Querido Computador,

Ultimamente tenho ouvido falar muito de ti pelas piores razões. Estás a fazer-me concorrência e eu não gosto muito disso.
As crianças vão às livrarias e olham para nós, livros, com uma certa ignorância. Pedem sempre aos pais para irem comprar jogos de computador e ficamos desapontados, pois elas só olham para os nossos títulos e esquecem-se que podemos ter uma aventura hilariante, uma bela história de amor e até histórias baseadas em acontecimentos reais.
Um jovem pede aos pais como prenda de anos um computador, e eles não se impõem à vontade dos filhos. É horrível vê-los a mandarem nos pais. E sabes porque é que isso acontece? Acontece porque a culpa é tua!
Os jovens não convivem uns com os outros, preferem estar o dia inteiro ao computador. Se eles não lêem, é claro que não têm uma boa educação e vocabulário variado.
Espero que recebas esta carta, e que penses bem no que andas a fazer.

Cumprimentos do teu querido amigo,

Livro

Daniela Santos, 10.º B

CARTA À LUA

25 de Fevereiro de 2010
Exm.ª Sr.ª Lua,

Venho por este meio informá-la de que, infelizmente, não é possível trocar os turnos consigo. Sei que anda um pouco desanimada e que queria ter um tom de pele mais dourado e bronzeado, mas não posso trocar de turno porque corro o risco de ver diminuído o meu salário e, posso mesmo ser despedido.
O que é que você pensa? Ser uma estrela anã neste ramo é algo muito complicado. Ninguém me quer e foi pura sorte ter encontrado este emprego.
Mas, olhe, quer jantar comigo amanhã na hora de mudança de turno?
Espero a sua resposta brevemente.
Cumprimentos,
Sol

Daniel Nunes, 10.º E


Poente, 30 de Fevereiro de 3411

Minha querida Lua,

Hoje quando acordei pensei logo em ti. Espero que estejas melhor daquela tua luastipação.
Eu, há dias, apanhei uma solargia, mas já estou melhor. Passou com uma pomadinha asteróide.
Estive aqui a pensar, e que tal continuarmos o nosso torneio de futoespaço?
Bom, falando de assuntos mais importantes. Desculpa se te vou chatear com isto, mas tem que ser. Eu já te avisei que não podes esconder-te cada vez que passas de quarto crescente a lua cheia. A Terra precisa de ti, Lua, e tu escondes-te?
"Ah! E tal, lua nova!"Lua nova, não... Tens que perder essa mania.
Não quero que fiques aborrecida comigo, mas como teu amigo, quero alertar-te. A Terra está mesmo zangada.
Muda de atitude e pensa no nosso torneio de futoespaço. Tenho um novo cometa para jogarmos, ah ah!
Cuida dessa tua luastipação.

Beijinhos quentes,

Sol

Isa Almeida, 10.º B





quarta-feira, 3 de março de 2010

A TEMPESTADE

"A tempestade desencadeou-se muito mais cedo do que esperávamos, o céu partiu-se em centenas de relâmpagos, os raios destruíam árvores cujos troncos se partiam no meio de uma fumarada de enxofre..."
Luís Sepúlveda, O Velho que Lia Romances de Amor

Pensei se seria o fim. Não só o meu próprio fim, como o de toda a humanidade.
O nosso abrigo era fraco mas mesmo assim aguentámo-nos algum tempo até sermos atingidos por um feixe de electricidade vindo dos céus.
Estava estendido no chão, tentando proteger-me.
Abri os olhos, levantei-me e senti tremer.
O solo desfez-se em diversas partes. Era o fim. Rios de lava desciam pelas encostas enquanto se ouvia o som dos demónios vindo do subsolo.
A humanidade estava a ruir e já era tarde de mais.
Tentei fugir mas não consegui. Parei no meio do caos para olhar para trás na minha vida. No início, no meio e agora, estava a viver o fim. As memórias da infância, as aventuras da adolescência e as tretas da idade adulta. Não me arrependi de nada, só de ter deixado partir a eternidade.
Senti que algo puxava o meu ser interior para fora do meu corpo. Senti-me vazio. A minha mente apagou-se.
De repente toda a luz desapareceu. Entrei na escuridão.
Acabou.
Miguel Ropio, 10.º E

Era hoje, depois de tanto tempo esperado, finalmente tinha chegado a hora. As pessoas corriam de um lado para o outro desesperadas, os animais corriam até onde podiam, as árvores despedaçadas pelos relâmpagos. O fim do mundo tinha chegado.
Eu ainda há pouco estava a ouvir as notícias pela rádio: "Meus caros amigos, estamos a salvo. O fim do mundo virá apenas daqui a cem anos." Eu acreditei e, todo descansadinho da vida, fui visitar os meus pais para lhes contar a notícia.
Quando lá cheguei e lhes contei o que tinha ouvido, um enorme suspiro veio das suas bocas e um grande abraço me deram por tal notícia.
Uma hora mais tarde, começou a trovoada e uma chuva intensa. Minutos depois o desastre começa, o fim do mundo havia chegado mais cedo do que o previsto. Do nada criaram-se vários tornados que se transformaram em furacões, segundos depois. Nós escondemo-nos na cave. Quando a tempestade acabou, eu saí lentamente e, quando olhei para a rua, quase perdi os sentidos. A cidade estava completamente devastada.
Nós saímos daquele local o mais rápido possível. Aquela tinha sido a pior experiência que me tinha acontecido na vida.
Agora que passaram anos, trabalho para a National Geographic para tentar descobrir mais alguma pista sobre o tal "fim do mundo".
Andreas Falt, 10.º E

Após a visualização dramática e chocante do filme "2020" quase toda a turma ficou chocada, excepto o Dido (António) e o professor de Biologia. O Dido é insensível e acha tudo completamente normal. A sua cara é pálida e não mostra interessar-se por tudo o resto que o rodeia, apenas a música e as aulas de Educação Física interessam. O professor já era de esperar que não se mostrasse chocado. Para além de ter sido ele a mostrar-nos o filme, todos nós sabemos que é apologista de que o mundo acabará com uma catástrofe natural da qual nada nem ninguém se pode livrar.
Eu achei o filme interessante e ao mesmo tempo fiquei com medo. É que a convicção e a segurança que o setôr mostrava ao ver o filme deixavam-me assim.
Será que tudo aquilo vai acontecer? Ou será apenas uma forma de manter as pessoas alerta sobre as suas acções, que mais tarde podem ter consequências graves? Eu prefiro nem pensar nisso. Vi o filme, gostei, chocou-me e intimidou-me mas por agora quero esquecer as imagens que teimam em permanecer na minha memória.
Pelo sim, pelo não, no final da aula fui falar com o professor e perguntei-lhe se não achava um bocado forte mostrar aquele filme a uma turma que tinha alguns alunos sensíveis. A resposta não foi de todo o que eu esperava. O professor disse que os jovens de hoje em dia deviam começar a pensar como seria o fim das suas vidas e como deveriam aproveitar os seus últimos anos de vida.
Apesar de querer esquecer toda aquela aula de Biologia, não consegui. Pensei e voltei a pensar. E desde então, passei a ter mais cuidado com o ambiente e aproveito a vida ao máximo, vivendo cada dia como se fosse um dos últimos.
Ana Nascimento, 10.º A

Será hoje o dia? Muitas pessoas perguntavam-se. Será que o homem irá pagar pelos males que fez à natureza? Ninguém sabe. Sabe-se apenas que o clima mudou, e muito. Esta tempestade é uma prova viva que a natureza está zangada com o homem. O próprio homem autodestruiu-se, a sua ganância falou mais alto e assim ditou a sua sentença.
Tempestades, terramotos, tsunamis, tudo tem vindo a aumentar no nosso planeta. Quando será o fim? Muitos cientistas afirmam estar próximo devido a estas mudanças tão súbitas da terra e do clima. O aquecimento global é a maior causa. O Homem não pensou no futuro, apenas no presente. Pensou apenas em ser um ente superior e evoluído.
Assistimos há pouco a uma grande catástrofe no Haiti. Um imenso terramoto que provocou milhares de feridos e mortos. Será apenas coincidência? Eu digo que não. É um aviso! Se o Homem não pensar no futuro o que mais irá acontecer?
Fala-se em 2012, o fim do mundo, talvez sim, talvez não, mas se o Homem não intervier, pode dizer-se que irá ter um final trágico.
No futuro não poderemos pensar apenas em nós, mas também na nossa casa, a Terra!
Bruno Ribeiro, 1.º Ano, C.P. Gestão e Programação

Uma tempestade como nunca antes vira destruía tudo. Centenas de pessoas em pânico nas ruas, a correr para se refugiarem nas suas casas, e eu na janela do meu quarto só pensava: "Será que é agora? Será que chegou o fim do mundo?" Nunca tinha acreditado muito nisso, mas agora era diferente. Estava a assistir a uma destruição sem igual ,e assustado, sem saber o que fazer, saí à rua. Queria estar com ela. Com aquele vento era difícil andar, mas não desisti. Se fosse o fim do mundo, o que importava morrer já ou depois?
A chuva e os relâmpagos eram tão intensos! Mas, para piorar, ainda surge um tremor de terra e aí foi o fim. O que mais me impressiona foi a tempestade terminar e só alguns terem morrido.
Gonçalo Manteigas, 1.º Ano, C.P. Gestão e Programação

Do meio de todo esse fumo preto, saem dois corpos, duas pessoas perdidamente apaixonadas, beijando-se loucamente, pensando ser essa a última vez que se veriam.
No meio de terramotos, de maremotos, lá estavam eles, preocupados só com o seu amor um pelo outro. Só interessava o que se passava entre os dois, enquanto prédios e vidas ruíam...
Mãos dadas e abraços sem fim, olhos nos olhos, só diziam sim.
Acaba uma história, acabam-se os tempos de uma maneira inexplicável, de uma maneira violenta, sem piedade.
Daniel Silva, 1.º Ano, C.P. Gestão e Programação

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PÁGINAS DE DIÁRIOS


8 de Setembro de 1998

Nasci! Hoje nasci de novo. Entrei para a pré-primária e conheci aquilo que nunca vai acabar, a amizade. Conheci tantos amigos! Os meus pais ensinaram-me que à medida que eu crescer vou estar sempre a aprender com os outros. Ora, se eu tenho tantos amigos, vou aprender mais e mais todos os dias.
No dia em que eu nasci tenho a certeza que a minha mãe, pai e irmão sentiram uma enorme amizade por mim, e que comigo iam voltar a aprender a ser crianças. Esta amizade que a minha família tem para comigo nunca vai desaparecer. É por isso que digo, apesar de ainda ser muito novo, que naqueles momentos em que eu pensar que estou sozinho ou que já aprendi tudo, tenho a amizade da minha família, essa que ainda me vai ensinar muita coisa e nunca me vai deixar sem companhia.
Por as amizades serem tão fortes, nunca quero perder um amigo, e quero sempre aprender com os que me rodeiam.

Gonçalo Inácio, 10.º B



Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 2010


Olá, diário. Tudo bem? Que imbecil que eu sou, a perguntar a uma folha de papel se está bem. Estou a começar a enlouquecer. Mas também o que é que se podia esperar de alguém que está há seis meses enfiado numa ilha deserta?!
Poderei considerar-me sortudo enquanto tiver papel higénico e uma caneta, porque no dia em que ele se molhar já não terei papel para escrever.
Já nem sei o que escrevi ontem (os meus desabafos tiveram outra finalidade). Enfim, talvez ainda comece a escrever na areia, mas depois também desaparece... TIREM-ME DAQUI!


Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 2010

Hoje o dia está a correr-me melhor. Tive um banquete de luxo: consegui finalmente (180 dias depois de aqui chegar) pescar um peixe e não tive que cumprir a minha dieta habitual, minhoca assada com folhas.

Sílvia Fraústo, 10.º B


14 de Janeiro de 2013

Já vivo nesta ilha há três anos, desde que naufraguei no barco à vela que tinha alugado.
Ainda me lembro que quando acordei, olhei em volta e reparei em homens armados.
Nestes anos tenho sobrevivido escondendo-me na selva, embora por vezes tenha que me aventurar e matar alguns homens pois preciso de mantimentos e de armas para me proteger dos animais. Mas há outra "coisa" na selva e parece que me observa...


17 de Janeiro de 2013

Hoje tive que me aventurar e finalmente descobri a "coisa", aliás as "coisas"...
Ao tentar saquear um laboratório, encontrei uma deitada numa maca a ser examinada.
Decidi destruir o laboratório, mas quando fugia um grupo daquelas "coisas" perseguiu-me...

22 de Janeiro de 2013

Diário, hoje consegui eliminar as criaturas que me perseguiram. Não foi fácil, mas...

24 de Janeiro de 2013

Não acredito. Aparecem de toda a parte. Parece uma legião romana contra mim!

Fábio Prates, 10.º B

22-04-70

Querido diário,
Fomos atacados por umas tribos africanas de Moçambique. Sofremos grandes baixas na nossa força de combate. Dos 1500 homens levados por mim, perdemos cerca de metade. Neste momento sinto uma enorme dor que me atormenta a cada dia que passa. Não sei se consigo aguentar muito mais tempo, sinto-me fraco e muito magoado.

24-04-70

Meu companheiro,
Esta guerra não há meio de chegar ao fim. Sinto saudades da minha mulher e do meu filho que está para nascer. O meu maior medo é não sobreviver para o ver. Sei que neste momento falta exactamente um mês para ele nascer. Espero conseguir viver até lá!

27-04-70

Amigo diário,
Hoje venho dizer-te que perdi um grande amigo meu de longa data. Morreu à minha frente e eu não pude fazer nada para o ajudar. Fugi, com medo. Sinto-me um cobarde sem força. Apetece-me desaparecer e não sei se conseguirei entrar novamente na frente do pelotão.

Tiago Oliveira, 10.º B

Quinta-feira, 22 de Abril de 1941

Já passaram dois anos desde que começou a Segunda Guerra Mundial. Ninguém esperava que após a primeira se desencadeasse outra igual.
As pessoas mudaram a sua maneira de ver o mundo. Vivem atormentadas e assombradas por todas aquelas caras que viram morrer às mãos dos inimigos. E eu sou uma delas. Estou assombrado por esta vida que não tem sentido.
Há cinco meses que estou neste campo de concentração em Auschwitz. "O trabalho liberta", disseram eles, mas a única libertação que recebemos é uma bala na cabeça.

Sexta-feira, 23 de Abril de 1941

Mais um dia se passou. Hoje subornámos um guarda para deixar passar grandes sacos de comida, mas o que eles não sabem é que entre a comida estão armas e munições.

Sábado, 24 de Abril de 1941

Acho que hoje é o Dia D. O guarda deixou passar umas sacas a mais e já temos armas suficientes, por isso hoje à noite iremos atacar.
Eu sou o que irá dirigir a operação e estou mentalizado que ou irei morrer nesta guerra ou, se for capturado, irei ser fuzilado. Assim, se alguém encontrar este diário, envie-o para a morada que está na capa.
Por fim, aqui expresso as minhas últimas palavras à minha filha e à minha esposa:
"Poderei partir e não voltar, mas quero que saibam que o meu coração convosco está. Nunca irei morrer, pois por vocês serei sempre amado e relembrado."

Daniel Nunes, 10.º E

São Paulo, 20 de Dezembro de 2016

Hoje acordei bem-disposto, tomei um belo pequeno-almoço preparado por minha esposa. Depois preparei a mala do nosso bebé e fomos para a garagem. Estava indeciso, levava o Lamborghini Gallardo ou o nosso Rolls Royce? Escolhi o Rolls, pois era mais espaçoso.
Estava ansioso por causa da final da Copa Mundial entre o Brasil e Portugal.
Fomos então para o Shopping Eldorado assistir ao Exterminador Implacável 7. Não foi grande ideia pois os barulhos do filme assustaram o Tales e tivemos que sair do cinema porque já estavam a atirar-nos pipocas.
Fomos para a Avenida Paulista ver uma exposição do artista plástico Daniel Phillipe. A Malu acabou por gostar muito de cinco obras dele e tive que lhos comprar. Quando contei que tinha estudado com o Daniel na minha adolescência, ela teve maior certeza do valor dos quadros.
Voltámos para a nossa Neverland latino-americana. Assistimos à copa e o Brasil ganhou por 2 - 0.

Mateo Augusto, 10.º E

23 de Agosto de 2070

Hoje completo 100 anos de idade. Serei a primeira da minha geração a chegar a esta idade e considero-me uma sortuda. Pude ver o crescimento dos meus filhos, netos, bisnetos e tetranetos.
Sei que tenho os dias contados. Já não aguentarei muito mais e sinto o poder da velhice a cair sobre mim. Os meus tetranetos às vezes perguntam-me se quero brincar com eles e eu digo sempre que sim. Estarei com eles até ao fim da minha vida.
A minha neta mais nova tem 35 anos. Hoje veio ter comigo e disse-me o que eu não queria ouvir: o meu querido neto Tiago morreu esta noite vítima de um enfarte. Disfarcei, fiz com que ela achasse que eu não tinha percebido, mas percebi e cada vez me sinto pior. Onde é que já se viu o neto morrer primeiro que a avó?!

Patrícia Ferreira, 10.º A