quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PROTESTO




Exmo. Sr. Branco,

Venho por este meio protestar e demonstrar o meu descontentamento face à desagradável situação que V. Ex.ª me tem proporcionado.
Para começar, encontro-me extremamente descontente com o facto de ser sempre eu o que dá azar, o que simboliza a morte, ou até mesmo, o que simboliza todas as coisas más nesta triste vida.
Quando uma pessoa morre, as outras vestem-se de preto, mas questiono-me: "Será que sou uma cor triste? Ou as pessoas apenas se sentem consoladas quando vestem a cor preta? Não percebo, sinceramente!"
Posso dar outro exemplo para entender melhor a minha situação: estou farto que digam que as zebras são brancas às riscas pretas! Porque é que não são consideradas como pretas às riscas brancas? Afinal, as passadeiras são pretas às riscas brancas, e toda a gente vê isso! Também não vejo razão para as pessoas preferirem o branco ao preto. Eu até sou uma cor clássica e sou bem quentinha!
Enfim, só vejo argumentos a meu favor, e gostava que o Excelentíssimo Senhor Branco mostrasse realmente quem é para que as pessoas percebam o verdadeiro valor que eu tenho no meio destas cores todas!
Agradeço a sua atenção e espero alguma melhoria da sua parte.

Mundo das Cores, 18 de Outubro de 2009

Com os melhores cumprimentos,
Preto

Beatriz Prates, 11.º B

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Palavra aos Livros


Dois livros à conversa

Chega um livro ao pé do outro:
- Olá, tudo bem?
- Olá. Está tudo bem, mas quem és tu?
- Eu sou um livro de ficção científica.
- Isso é engraçado. Eu sou um livro de aventura. Como é ser um livro de ficção científica?
- Bem... Eu gosto porque nas minhas páginas tenho personagens que saem do planeta Terra numa nave espacial e vão até à lua. E tu?
- Eu, nas minhas páginas, tenho personagens que conduzem carros a alta velocidade. Tenho cá dentro muita violência e muitos tiroteios. É muita adrenalina e eu gosto disso.
- É engraçado ser um livro, não é?
- É, bastante! Queres ir almoçar comigo?
- Adorava! Vamos àquele restaurante novo que abriu ali na segunda prateleira à esquerda!

Fábio Prates, 10.º B

O Livro de Ponto

Eu sou aquele livrinho cor-de-laranja que os professores utilizam para escrever os sumários e para tramar o pessoal que se porta mal nas aulas.
Sou aquele livrinho que põe tudo a partir o caco a rir por causa das fotografias ridículas dos outros com quatro ou cinco anos a menos.
Sim, sou eu, o temível livro de ponto!
Não é o melhor emprego do mundo, mas com a crise que aí anda até não é mau de todo. E ao menos sou usado quase todos os dias! Mas é um pouco cansativo... O meu dia é sempre o mesmo: prateleira - trabalho, trabalho - prateleira.
O problema é que a tecnologia está a avançar e qualquer dia passo à história. E a culpa é toda dos computadores portáteis!!! Acham que podem fazer o trabalho dos outros. Só porque são todos tecnológicos, não sei quantos gigabytes de memória, e tal...
Eu sei que estou um bocado velho e que estou a ficar démodé. Também sei que a minha memória não é tão boa como a dos computadores. A verdade é que, por vezes, já nem me lembro do que me escreveram no dia anterior, mas mesmo assim não é razão suficiente para me substituírem!
Mas enfim, por agora ainda tenho trabalho, e sempre me divirto um bocado a ver aquelas fotografias...ridículas.
João Bentes, 10.º A




quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Aguarelas da Vila




O Merceeiro

Lá está ele ao balcão
Com um sorriso nas beiças,
Nas suas faces gordas
Duas manchas vermelhas.
Na sua mercearia,
Tudo lá pára:
A Afonsina, a Joaquina e a Manuela.
Por entre a coscuvilhice diária
Lá vende um pão
E uma garrafa de azeite.
A mão vai ao balcão e ao bolso
E lá aldraba mais uns clientes.
Com os seus dotes de eloquente
E os seus suspensórios cor-de-rosa,
Lá convence os mais loucos
A comprar as novidades:
É creme para as rugas,
É pomada milagrosa.
Por sorte, é só água
Que às vezes faz alergia.
Ele é o larápio da vila
E ninguém o apanha,
Ganha a vida desonestamente
E a lei nem lhe toca.
Luís Laranjo Matias
11.º A

O Polícia

De bigode farfalhudo
E com o cassetete em punho
O cabo Costa passeia pela aldeia
Das oito às oito e meia.

Cedo pára no café
E pede uma imperial.
Comenta alto para o taberneiro:
- Que vergonha esta que vem no jornal!
Um ladrão foi solto
Por sofrer de exclusão social.
E um homicida que da prisão saiu
Por padecer de doença mental.
Gustavo Galveias
11.º A