segunda-feira, 11 de outubro de 2010

AGUARELAS DA VILA II


O PINTOR
24 de Fevereiro de 2009
Caro diário,

Já ninguém se lembra do velho pintor. Há anos atrás os meus quadros eram elogiados e as filas de espera para os retratos infinitas... e agora?
Hoje o meu dia foi passado como todos os outros, a limpar os pincéis, nunca mais utilizados, só para relembrar os meus anos de apogeu, e a rabiscar numa tela um futuro quadro, um futuro fracasso!
O meu vestuário já perdeu a graça perante os outros habitantes da aldeia. O pincel atrás da orelha, a boina estilo francês e as camisas salpicadas das recordações das minhas antigas obras de arte já não transmitem respeito nem levam as crianças a ter consideração por mim.
Antigamente era solicitado para ir expor as minhas obras, os meus quadros à escola da aldeia e às do concelho, agora já nada tem valor nem brilho.
Para os jovens de hoje em dia já não sou o Sr. Pintor, como era há anos atrás, sou apenas mais um velho que ocupa espaço na aldeia, que pensam ser só deles.
Será que algum dia voltarei a ter a consideração dos que me rodeiam?
Não precisas de responder, querido diário, esses tempos já lá vão... há muito tempo.
Carina Alves, 11.º B


A ALCOVITEIRA

Quinta-feira, 18 de Setembro de 2010

"Mê" querido diário,

Esta manhã quando estava à janela passou o senhor "Antóino" na rua. Ainda lhe dei os bons dias, mas ele nem respondeu. Estava todo bem vestido, com roupa lavadinha. Pensei logo assim: "Mas onde é que ele vai?"
Vai daí, liguei à prima Aurora, que é cunhada do Galeano Gaudêncio, que é tio do afilhado da mulher do António, mas ela não sabia nada.
Desci as escadas e fui falar com a irmã dele, que é vizinha da Maria da Graça Cabeça Oca. Então não é que ele tinha ido ao médico do coração!
Fiquei espantadíssima! Então o homem nasceu em 1932, foi ao Ultramar, andava aí tão rijo rua acima, rua abaixo e agora dói-lhe o coração...
Depois fui à taberna da Guilhermina para saber se ele tinha ido sozinho. É que podia dar-lhe qualquer coisa na carreira, ainda morria e depois pensavam que estava a bater uma sorna e não o chamavam. Mas ao que parece a filha mais velha foi com ele.
Mais tarde fui ter com a senhora dele. Ninguém abriu a porta, por isso fui à horta dela. Quando lá cheguei ela estava plantando sementes de feijão.
Então disse-lhe assim: "Atão comadre, que está fazendo?"
Ao que ela responde: "Estou plantando feijão."
Depois perguntei-lhe: "Atão o seu homem está mal do coração?"
Vejam lá o que ela me disse: "Você deixe mas é de ser quadrilheira e meta-se na sua vida, está a ouvir?".
Eu até levei a mal! Anda uma pessoa um dia inteiro a ver se o outro está bem e tem de ouvir uma coisa destas?! Amanhã vou à da comadre Piedade para lhe contar isto. Tenho a certeza que ela vai ficar admirada!
Rute Azenha, 11.º B

O POVO

Povo... Quem é o povo? Bem, o povo... sou eu, és tu, somos todos nós.
Se eu pudesse colar outra palavra à palavra povo seria união. Sim, união, pois apesar das riquezas, das pobrezas, das alegrias ou das tristezas, somos um! É verdade que não tenho muita experiência, pois tenho apenas 16 anos, mas o povo português que vejo nas pequenas aldeias é assim.
Eu sei que devem estar a pensar que não é bem assim porque as coscuvilheiras, as corta-casacas, os bêbedos, os endireitas e os curandeiros dessas pequenas aldeias normalmente têm algumas brigas ou zangas. Mas eu estou a olhar mais além.
No povo português tenho visto amizade, hospitalidade, compadecimento, bebedeiras... Sim, grandes bebedeiras, mas muitas alegrias.
O povo português é trabalhador, é agricultor, caçador, pescador, amigo do bolso, mas grande dador. Alguns médicos, outros professores... Enfim, somos nós. Somos aquilo por que nos esforçamos, nem que seja apenas sustentar a família.
Como diz a minha avó, antigamente uma sardinha tinha que dar para ela e para os seus oito irmãos. Eram outros tempos e é por isso que eu aprecio tanto este povo, este povo português.

Daniel Nunes, 11.º E




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