terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Torres de marfim



Desde o início dos tempos que o ser humano se preocupa em encontrar maneiras de passar o tempo, formas de entretenimento. Entretenimento esse que frequentemente esteve associado às massas e a acontecimentos com muito público na assistência. No entanto, nos últimos anos, esta ideia tem vindo a inverter-se. O entretenimento de massas e o convívio que a ele sempre esteve ligado foi sendo substituído por um entretenimento sem sair de casa e por um convívio quase "falso", através de meios de comunicação mais modernos.
As pessoas já não querem sair de casa para ver um espectáculo ou tomar um café com amigos. Querem trazer o espectáculo em DVD para casa, onde o podem ver sozinhas; fazer um café na sua Nespresso e trocar novidades no Facebook com os dez amigos que conhecem e os duzentos que nunca viram na vida. É triste, mas todos nós somos atacados por esta presunção dos tempos modernos, que nos tenta roubar o prazer de sair de casa num Domingo à tarde.
Senão vejamos, para um amante de cinema, as diversas salas ao longo do país sempre foram um local de culto, onde para além de se assistir a um bom filme, podíamos ainda sentir as reacções do público, as gargalhadas, os suspiros, as emoções em geral. Porém, actualmente o espírito da sala de cinema foi trocado por Home Cinemas e pipocas de microondas, tal como o ambiente infernal de um estádio de futebol foi trocado pela transmissão de jogos em HD, que até permitem desligar o som das claques.
Por outro lado, é muito mais assustador quando as pessoas trocam um café ou um passeio com os amigos por um convívio falso, virtual e ingrato através das mais diversas redes sociais. É verdade que quase todos as usamos, mas talvez devêssemos fazê-lo como um complemento e não como um substituto de algo que é real.
Assim, todos devemos reflectir sobre este comportamento e pensar que o espaço doméstico é importante, mas que o espaço colectivo não pode nunca ser esquecido sob pena de nos deixarmos empobrecer.
Rui Poeiras, 12.º A

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Belluno






Zaira Pellin é uma aluna que escolheu estudar na nossa Escola durante este ano lectivo integrada no programa de intercâmbio Intercultura-AFS, para conhecer melhor a língua e a cultura portuguesas. Está na turma de 11° A, e publica, no blogue e no jornal, informações relativas à sua cidade e região de origem, Belluno, no Norte da Itália.

Belluno, como Pádua, Vicenza, Verona, Rovigo, Treviso e Veneza, é um distrito do Veneto, província do nordeste de Itália. O Veneto tem várias localidades de interesse turístico como a famosa Veneza, capital da região, Verona, cenário da célebre tragédia de amor de W. Shakespeare “Romeu e Julieta”, ou Pádua, centro universitário com um grande património artístico.

Perto destes grandes centros culturais e turísticos fica a pequena cidade de Belluno, cuja riqueza é menos visível e conhecida.
A história desta terra é caracterizada principalmente por séculos de resistência a numerosos invasores. Os primeiros habitantes remontam à pré-história e a seguir foram os “Paleoveneti”, os Celtas (que chamaram à cidade “Bellodomum” ou “Fortaleza luminosa”, de onde deriva o actual nome de Belluno), os Romanos e os Bárbaros; mais tarde os imperadores alemães, os senhores das terras limítrofes que disputaram a zona até que Veneza a dominou durante quase três séculos; Napoleão Bonaparte; e, mais recentemente, foi campo de batalha nas duas guerras mundiais e grande protagonista da resistência face às tropas alemãs de Hitler, de cujos acontecimentos ainda hoje se podem ver vestígios na encosta da montanha. Todos os invasores deixaram atrás de si um rasto de sangue e dor que contribuiu para formar o carácter aparentemente frio das pessoas originárias desta região, já habituadas às numerosas dificuldades da vida nas zonas altas.
Para além da sua história, a riqueza do distrito está no território, que se estende entre vales estreitos e montanhas altas, que proporcionam vistas de cortar a respiração! Mas a verdadeira pérola são os Dolomitas , declarados em 2009, Património Mundial da Unesco. O comité justificou deste modo a sua decisão:
“ I nove sistemi montuosi che compongono le Dolomiti comprendono una serie di paesaggi montani unici al mondo e di eccezionale bellezza naturale. Le loro cime, spettacolarmente verticali e pallide, presentano una varietà di forme scultoree straordinaria a livello mondiale. (…) I paesaggi sublimi, monumentali e carichi di colorazioni delle Dolomiti hanno da sempre attirato una moltitudine di viaggiatori e sono stati fonte di innumerevoli interpretazioni scientifiche ed artistiche dei loro valori.”
( “Os nove sistemas montanhosos que compõem os Dolomitas integram uma série de paisagens montanhosas únicas no mundo e de excepcional beleza natural. Os seus cumes, espectacularmente verticais e claros, apresentam uma variedade de formas escultóricas extraordinária a nível mundial. (...) As paisagens sublimes, monumentais e cheias de cores dos Dolomitas sempre atraíram uma multidão de viajantes e têm sido fonte de inúmeras interpretações científicas e artísticas das suas riquezas.”)

A cidade em si é diferente, longe do esplendor daqueles lugares. É o centro político e religioso do distrito, de facto os cargos políticos distritais eo bispo estão sediados na cidade. O centro histórico é um alternar de épocas. Encontram-se , de facto, portas medievais nas muralhas ao lado de edifícios renascentistas, ou igrejas de estilo românico por fora e de estilo barroco no interior. É também o principal ponto de encontro de jovens, porque a maior parte das lojas, bares e discotecas estão situados perto do centro.
Zaira Pellin
(tradução do original escrito em italiano)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

AGUARELAS DA VILA II


O PINTOR
24 de Fevereiro de 2009
Caro diário,

Já ninguém se lembra do velho pintor. Há anos atrás os meus quadros eram elogiados e as filas de espera para os retratos infinitas... e agora?
Hoje o meu dia foi passado como todos os outros, a limpar os pincéis, nunca mais utilizados, só para relembrar os meus anos de apogeu, e a rabiscar numa tela um futuro quadro, um futuro fracasso!
O meu vestuário já perdeu a graça perante os outros habitantes da aldeia. O pincel atrás da orelha, a boina estilo francês e as camisas salpicadas das recordações das minhas antigas obras de arte já não transmitem respeito nem levam as crianças a ter consideração por mim.
Antigamente era solicitado para ir expor as minhas obras, os meus quadros à escola da aldeia e às do concelho, agora já nada tem valor nem brilho.
Para os jovens de hoje em dia já não sou o Sr. Pintor, como era há anos atrás, sou apenas mais um velho que ocupa espaço na aldeia, que pensam ser só deles.
Será que algum dia voltarei a ter a consideração dos que me rodeiam?
Não precisas de responder, querido diário, esses tempos já lá vão... há muito tempo.
Carina Alves, 11.º B


A ALCOVITEIRA

Quinta-feira, 18 de Setembro de 2010

"Mê" querido diário,

Esta manhã quando estava à janela passou o senhor "Antóino" na rua. Ainda lhe dei os bons dias, mas ele nem respondeu. Estava todo bem vestido, com roupa lavadinha. Pensei logo assim: "Mas onde é que ele vai?"
Vai daí, liguei à prima Aurora, que é cunhada do Galeano Gaudêncio, que é tio do afilhado da mulher do António, mas ela não sabia nada.
Desci as escadas e fui falar com a irmã dele, que é vizinha da Maria da Graça Cabeça Oca. Então não é que ele tinha ido ao médico do coração!
Fiquei espantadíssima! Então o homem nasceu em 1932, foi ao Ultramar, andava aí tão rijo rua acima, rua abaixo e agora dói-lhe o coração...
Depois fui à taberna da Guilhermina para saber se ele tinha ido sozinho. É que podia dar-lhe qualquer coisa na carreira, ainda morria e depois pensavam que estava a bater uma sorna e não o chamavam. Mas ao que parece a filha mais velha foi com ele.
Mais tarde fui ter com a senhora dele. Ninguém abriu a porta, por isso fui à horta dela. Quando lá cheguei ela estava plantando sementes de feijão.
Então disse-lhe assim: "Atão comadre, que está fazendo?"
Ao que ela responde: "Estou plantando feijão."
Depois perguntei-lhe: "Atão o seu homem está mal do coração?"
Vejam lá o que ela me disse: "Você deixe mas é de ser quadrilheira e meta-se na sua vida, está a ouvir?".
Eu até levei a mal! Anda uma pessoa um dia inteiro a ver se o outro está bem e tem de ouvir uma coisa destas?! Amanhã vou à da comadre Piedade para lhe contar isto. Tenho a certeza que ela vai ficar admirada!
Rute Azenha, 11.º B

O POVO

Povo... Quem é o povo? Bem, o povo... sou eu, és tu, somos todos nós.
Se eu pudesse colar outra palavra à palavra povo seria união. Sim, união, pois apesar das riquezas, das pobrezas, das alegrias ou das tristezas, somos um! É verdade que não tenho muita experiência, pois tenho apenas 16 anos, mas o povo português que vejo nas pequenas aldeias é assim.
Eu sei que devem estar a pensar que não é bem assim porque as coscuvilheiras, as corta-casacas, os bêbedos, os endireitas e os curandeiros dessas pequenas aldeias normalmente têm algumas brigas ou zangas. Mas eu estou a olhar mais além.
No povo português tenho visto amizade, hospitalidade, compadecimento, bebedeiras... Sim, grandes bebedeiras, mas muitas alegrias.
O povo português é trabalhador, é agricultor, caçador, pescador, amigo do bolso, mas grande dador. Alguns médicos, outros professores... Enfim, somos nós. Somos aquilo por que nos esforçamos, nem que seja apenas sustentar a família.
Como diz a minha avó, antigamente uma sardinha tinha que dar para ela e para os seus oito irmãos. Eram outros tempos e é por isso que eu aprecio tanto este povo, este povo português.

Daniel Nunes, 11.º E




segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Liberdade em Portugal

A liberdade pode ser definida, de forma positiva, como autonomia e espontaneidade de um sujeito racional. Também a podemos considerar uma condição fundamental na vida de um ser humano.

Há aproximadamente 35 anos atrás, a população portuguesa queixava-se de falta de liberdade devido à opressão salazarista, seguida da opressão de Marcelo Caetano. A verdade é que, com a revolução de Abril, os portugueses conquistaram liberdades individuais e colectivas, tais como a liberdade de expressão ou a possibilidade de formar sociedades/grupos, o que, no tempo do Estado Novo, poderia ser visto como um crime ou uma forma de revolução. Houve, de facto, uma conquista bastante importante com o 25 de Abril, talvez a mais importante de todas, e a população portuguesa parece ignorá-la.

A partir do 25 de Abril, a população portuguesa ganhou o direito e a liberdade de escolher os seus líderes, ou seja, os seus dirigentes. Aparentemente, os portugueses não ligam muito a este direito, uma vez que atingimos taxas de mais de cinquenta por cento de abstenção nas várias eleições que ocorrem em Portugal, sejam elas legislativas, autárquicas ou europeias.

Se os portugueses não votam, então não usufruem das suas liberdades. Logo, será que deverão ser merecedores de todas as liberdades que possuem? Deverão poder queixar-se se o líder eleito não agir de forma correcta? A resposta a estas questões é óbvia.

Em suma, a liberdade é condição essencial à vida dos seres humanos, mas deverá também ser merecida e bem usada.

Regina Manuelito, 12.º A

Cidadania

A cultura de massas obriga, hoje em dia, a um culto do egocentrismo. Este facto está a tornar a sociedade num conjunto de "eus", completamente independentes entre si, destruindo qualquer conceito de cidadania e associativismo.
A participação na vida em sociedade e, principalmente, nas decisões e opiniões nacionais, é cada vez menor. Todos se demitem dos seus deveres (e também direitos) de contestarem o que não concordam, tanto pelo facto de, para isso, terem de se mexer, como pelo medo das represálias. Assim, as relações interpessoais degradam-se, pois se não existem opiniões, não existe mudança, só gente que cala e consente, "não vá o outro pensar que eu...".
Ninguém se revolta contra nada: sistema educativo, de saúde, política, justiça. Mas, nas costas, todos reclamam. E sempre que alguém se "chega à frente" para alterar seja o que for, acaba por, a qualquer momento, dar um passo atrás.
Tenho uma leve sensação que estamos a ser governados por gente algo ignóbil, talvez até estejam à procura dos piores para chegarem mais alto e terem mais responsabilidades. Porquê? Não sei. Talvez aos bons dê muito trabalho.
Beatriz Ropio, 12.º A



Ser cidadão implicava, na Grécia Antiga, intervir na vida da cidade, não só intervir como também participar activamente na legislação e noutros assuntos essenciais para a sociedade. Contudo, nos dias de hoje, com as dimensões actuais dos países e a atribuição do termo cidadão a qualquer pessoa, independentemente do seu sexo, da sua raça, condição social, isso tornou-se praticamente impossível, pois para que todas as pessoas pudessem dar a sua opinião sobre, por exemplo, as leis teria de existir um constante referendar de todas as propostas.
Assim, e numa tentativa de democratizar a intervenção popular na gestão do seu país, foi criado este sistema de participação indirecta no qual, de quatro em quatro anos, escolhemos quem nos vai representar. Ora isto impede que uma pessoa em particular possa apresentar propostas, pois imagine-se como seria se os senhores deputados tivessem que ouvir todas as ideias de toda a gente que considerasse ter boas propostas para o país.
Vivemos num país democrático, mas é extremamente difícil sermos ouvidos. E, pior que isto, é o facto de muitas pessoas renunciarem ao seu direito ao voto, deixando assim que as restantes decidam por elas. É que quem não vota, também não se pode queixar.
Gustavo Galveias, 12.º A

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Biografia de Fernando Pessoa

A 13 de Junho de 1888, nasce Fernando António de Nogueira Pessoa, no Largo de S. Carlos, em Lisboa, filho de Joaquim de Seabra Pessoa e de Maria Madalena Pinheiro Nogueira Pessoa.
Aos 5 anos, em 1893, Pessoa sofre com a morte do seu pai, vítima de tuberculose, tal como o seu irmão, que morre uma ano mais tarde. Pouco tempo depois das perdas marcantes na sua infância, a sua mãe decide voltar a casar e, em 1895, contrai matrimónio com João Miguel Rosa, cônsul em Durban, na África do Sul. Sendo a sua mãe a pessoa de quem mais gostava, Fernando escreve os seus primeiros versos a ela dedicados:
"Eis-me aqui em Portugal,
terra onde nasci,
por muito que goste dela,
ainda gosto mais de ti."
Em 1896, Fernando Pessoa parte com a sua mãe para Durban, onde viria a viver, também com o seu padrasto e 4 meios-irmãos. É em Durban que inicia os seus estudos, frequentando um colégio de freiras irlandesas. Em 1899 entra para o Liceu de Durban e, em 1903, com apenas 15 anos, presta provas de admissão para entrar na Universidade do Cabo da Boa Esperança, sendo-lhe atribuído o prémio Rainha Vitória para o melhor ensaio em inglês.
Em 1905 regressa a Portugal e vai viver com a sua avó Dionísia e duas tias. Matricula-se no curso de Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, mas retira-se em menos de um ano. Pouco tempo depois, em 1907, a sua avó morre e deixa-lhe uma herança, que Pessoa utiliza para abrir uma tipografia. Esta é a sua primeira tentativa de ganhar dinheiro, no entanto, revela-se um fracasso, visto que, rapidamente a empresa abre falência.
Não se interessando muito pelo dinheiro, Fernando começa a trabalhar como correspondente comercial, traduzindo cartas para inglês e francês, apenas para ganhar o indispensável. Trabalhou, também, como publicitário, sendo pioneiro na campanha da Coca-Cola em Portugal e o autor do slogan da marca: "Primeiro estranha-se, depois entranha-se".
Já com 30 anos, Pessoa vivia em casa de parentes e em quartos alugados, e ainda não tinha encontrado o amor, até que conhece Ophélia, uma bela jovem de 19 anos. Nos 9 meses seguintes encontram-se secretamente nos eléctricos de Lisboa, mas Fernando termina o relacionamento.
O escritor dedica-se inteiramente à literatura, sem nunca esquecer as suas idas diárias ao barbeiro Manassés para aparar o seu bigode.
Intelectual, Pessoa escreve milhares de obras, desejando superar Camões e outros escritores maiores. Nove anos passaram e Fernando Pessoa não esquece Ophélia, o seu grande amor. Assim, em jeito de provocação, envia-lhe um postal com uma fotografia sua a beber ginga e a seguinte dedicatória: "Em flagrante delitro". Reataram a relação por mais algum tempo.
Fernando Pessoa morre a 30 de Novembro de 1935, vítima de cirrose hepática, proferindo as seguintes palavras: "I know not what tomorow will bring".
Na sua última morada, Rua Coelho da Rocha, actualmente uma casa museológica, deixou uma enorme colecção literária e uma arca com milhares de obras por publicar.
Em vida, o escritor permaneceu anónimo em Portugal, sendo apenas Mensagem a sua única obra publicada em português. Depois de falecer, concretizou o seu sonho, tornando-se um supra-Camões, com milhares de obras publicadas em várias línguas e muitas outras por publicar.
Liliana Madeira e Luís Ferrolho, 12.º B

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Terreiro do Paço

O sol brilhava, as gaivotas já voavam e o Tejo tinha acordado. Ali estava eu, sozinho, aproveitando o curto espaço de silêncio que Lisboa ainda me dava, enquanto ouvia os pequenos e poucos sons naturais da cidade. Como sempre, retirei o meu cartão rasgado de cima das minhas míseras vestes, levantei-me, agarrei no Salsicha e começámos a nossa longa caminhada diária, que principiava no Paço e terminava no Rossio. A Augusta ainda estava calma, apenas se encontravam um ou dois comerciantes que, com mais sorte que eu, conseguiam segurar as suas lojas em plena crise e invasão chinesa. Já perdi a conta às vezes em que me aleijei na calçada da Augusta. Os ricos passam por aqui com os seus sapatos Prada e não sentem nem as pedras perigosas que me ferem os pés, nem os sentimentos com que pessoas com eu e outros iguais a mim se arrastam por aqui. O Salsicha corre, contente, à minha frente. O seu passatempo preferido é entrar dentro das barracas de cartão dos outros mendigos e roubar o que encontrar. Depois vem entregar-me o que encontra e rebola-se a meus pés, como quem pede uma pequena valoração... Fui eu que lhe ensinei! Quando perdi a minha loja e ficámos sozinhos, sem nada, tivemos que nos desenrascar... Eu não sabia tocar nada, nem fazer nada que levasse as pessoas a darem-me uma moeda de cinquenta cêntimos, simplesmente para acalmarem a sua consciência, por isso, como éramos profissionais a caçar, ensinei-o a caçar outras coisas... Se é que me faço entender...
Com os trocos que me trouxe o Joaquim, entrei numa pastelaria para comprar um pastel de nata, mas senti-me de imediato observado. Numa mesa redonda encontravam-se duas senhoras que eram tão bonitas como a ignorância que traziam. Para variar, comentários para aqui comentários para ali... Olhei para o Salsicha que estava à porta, provavelmente pensando quando é que iria comer. Paguei e voltei ao meu percurso. Estava quase a chegar ao meu local de lazer, como costumo dizer ao Salsicha. O meu canto era sentado na primeira fonte do Rossio. Adorava aquele sítio! A água refrescava-me, a música das árvores relaxava-me e o Teatro D. Maria fazia-me sonhar com o dia em que voltaria a entrar lá. Sentei-me, como sempre, coloquei uma tabela no pescoço do Salsicha que dizia "Ajudem-nos". Tabela esta com a qual ele adorava brincar... Ele também se sentou a olhar para a frente e ali ficámos à espera de alguém para nos ajudar ou de algo que nos fizesse lutar.
João Monteiro, 10.º B