sexta-feira, 5 de junho de 2009

O DIREITO DE NÃO FALAR DO QUE SE LEU


Não contes, se o desejo de emudecer as letras é maior. As declarações de um ego decifrado pelo papel fervem-se maiores quando guardadas na altivez dos sons mais inaudíveis, imunes à nódoa falada. A vontade de não confidenciar crê-se no pavor do fim do encantamento escrito. Não fales. As palavras são neve de memória fugida no abraço (nunca) perpétuo da história intensa e vazia; por isso derreterão entre os desejos de um secretismo déspota e fugaz, que o egoísmo desafiou a manter-se oculto. Mantém-te calado. Uma frase e descobre-se o êxtase brilhante, que agora partilhas com milhares de exaltações, numa cadeia inevitável, imparável, que foi outrora a capa protectora de um feitiço só teu. Recua. Sabes, nem os temas proibidos nem os autores encolhidos pela opinião alheia se ferem com provocações ou greves de fala. Supõe agora que continuavas calado e deita-te sonhando com o silêncio. Adormece entre os perfeitos suspiros mudos de palavras só tuas, para ti apenas. Ssshhhhiiu.

HELENA COUTO, 11ºA

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