- Gostas dos heróis dos livros?
- Odeio heróis.
- Como podes odiá-los?!
- Odeio, odeio cada um. Odeio as maravilhas da acção que me consomem nos sonhos, a perfeição de cada detalhe que me afoga enquanto leio, a beleza de cada defeito à luz de uma perspectiva invejosa, a frustração de cada uma das qualidades que se fervem no respirar que acelera. Descontrola-se o desejo zonzo de intervir, de tornar o momento real, mais alegre, de impor que as desgraças se virem do avesso, que a única coisa que reste seja a folha branca sem tinta onde não possa mais adorar nem frustrar-me no amor dos heróis. Detesto-os. Os heróis tomam-se na minha vontade, desligam-me do tempo onde sou gente e tornam-me numa ânsia dormente de não ser eu, ser o defeito corroído entre personagens de fantasia impressa, ser o olhar, ou o choro invejável, viver nas palavras de mão alheia com tamanho impacto sobre galope surdo que ouço desvanecido, descontrolado (de onde?). Abomino o brilho desmesurado deste domínio da história perfeita que me acorda do sono vazio para que volte a dormir desassossegada, porque lhes desconheço o perigo heróico. E porque deixo de pensar coerentemente quando as letras assomam a mente e me turvam as cenas quotidianas que crescem na insignificância do dia-a-dia. Odeio-os por adorá-los demais. Odeio heróis.
- Odeio heróis.
- Como podes odiá-los?!
- Odeio, odeio cada um. Odeio as maravilhas da acção que me consomem nos sonhos, a perfeição de cada detalhe que me afoga enquanto leio, a beleza de cada defeito à luz de uma perspectiva invejosa, a frustração de cada uma das qualidades que se fervem no respirar que acelera. Descontrola-se o desejo zonzo de intervir, de tornar o momento real, mais alegre, de impor que as desgraças se virem do avesso, que a única coisa que reste seja a folha branca sem tinta onde não possa mais adorar nem frustrar-me no amor dos heróis. Detesto-os. Os heróis tomam-se na minha vontade, desligam-me do tempo onde sou gente e tornam-me numa ânsia dormente de não ser eu, ser o defeito corroído entre personagens de fantasia impressa, ser o olhar, ou o choro invejável, viver nas palavras de mão alheia com tamanho impacto sobre galope surdo que ouço desvanecido, descontrolado (de onde?). Abomino o brilho desmesurado deste domínio da história perfeita que me acorda do sono vazio para que volte a dormir desassossegada, porque lhes desconheço o perigo heróico. E porque deixo de pensar coerentemente quando as letras assomam a mente e me turvam as cenas quotidianas que crescem na insignificância do dia-a-dia. Odeio-os por adorá-los demais. Odeio heróis.
Helena Couto, 11ºA
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