sexta-feira, 6 de março de 2009

TEXTO VENCEDOR DO CONCURSO LITERÁRIO JOÃO AGUIAR - CATEGORIA DO ENSINO SECUNDÁRIO

Comentário ao livro O Sétimo Herói, de João Aguiar
Uma incursão no campo da fantasia

“…três pares de olhos, pequeninos, verdes e muito piscos observavam-no com ansiosa atenção…”, a partir daí tudo podia acontecer. Quem eram? De onde vinham? O que queriam daquele rapaz que, no dia seguinte, entrava na maioridade? Porquê ele? Ogláglah, um universo paralelo onde ninguém usa óculos, é o local onde a história se passa e, por entre um rol de palavras estranhas, entramos num mundo surpreendente. Naquele lugar fantástico, povoado por duendes, magos, elfos, cavilos, tacsiáticos e dragões, prevalece um “mundo possível” construído à semelhança do mundo real, mas com personagens e situações imaginadas, em que é possível fazer a ponte entre os dois mundos.
A incursão na fantasia começou com o rapto de Jorge para Lysitaya, onde, para tornar-se um herói, antes do desafio final, teve de prestar provas das suas capacidades. Assim, o nosso herói e representante naquele mundo foi iniciado nas artes da magia (“Era também aconselhável que um futuro herói recém-chegado àquele mundo soubesse coisas acerca do seu funcionamento…”) e no uso de armas (“….espada, adaga, lança, machado. Por fim, lançamento de dardo e tiro ao arco”).
Três grandes combates são propostos: o Pantanoso (o poluidor), Aglabush, a águia (o desejoso de poder) e Pehndkotz, o dragão (o ladrão cruel). A todos vence com astúcia mas, sobretudo, com muita inteligência, já que fazer parte do “Clube dos Poetas Semi-Vivos” permitiu-lhe, devido às leituras que tinha feito, conseguir estabelecer ligações com as situações com que se ia deparando. É claro que vencer um dragão, que tinha como passatempo palavras cruzadas, é um pouco hilariante e bastante fantasioso, mas o que é certo é que as respostas não eram nada fáceis e exigiam conhecimentos que nem todos (os deste lado) possuem.
Ao longo da história, o fantástico continua sempre presente, desde a bebida oficial, o zgnoc, que “…era um líquido azul-safira” e “além disso provocava uma imediata sensação de conforto”, passando por cavilos que “pertencem à família equina, só que são menos velozes… e demasiado civilizados”, um dos quais( Radnafridigoécio) declamava A Ilíada, A Odisseia e a A Eneida, até Chlocblaúmm, Senhor do Mal, que desconhecia em absoluto a filosofia e que, por problemas existenciais, se desfez em fumo, levando a que o seu castelo ficasse privado do seu contínuo fluxo de energia e se desintegrasse.
Existem muitas mais situações e seres fantásticos que vão aparecendo ao longo da história, sempre com aspecto estranho e, muitas vezes, bizarro, mas com poderes especiais e sobrenaturais.
Como em todas as histórias onde prevalece o fantástico, também aqui surge a necessidade de libertar uma princesa das garras de um monstro terrível e super poderoso, neste caso, chamado Miasma que ameaçava submeter o território de Lysitaya às suas ordens. Este é o objectivo final que faz com que o nosso herói sonhe ser o “príncipe encantado”, que liberta a princesa Nirvânia e se casa com ela. Essa ideia invade o seu pensamento, em todos os momentos, até mesmo quando no seu caminho se atravessam as mais belas “mulheres”.
Só no final, o nosso herói compreende as verdadeiras razões da sua ida a Ogláglah: impedir a destruição dos espaços verdes e a implementação de construções nocivas para o ambiente, mostrando-nos que o que se passa lá é exclusivo do mundo do fantástico, como diz Shenazimm: “o teu mundo encontra-se povoado de Pantanosos que o poluem e matam, só que o fazem impunemente, são senhores importantes e respeitados…”
Todas as situações do livro, das mais sérias às mais hilariantes, têm sempre uma moral. Todos os elementos extraordinários que aparecem nesta história encontram-se integrados de forma a dar consistência aos acontecimentos, fazendo-nos compreender e aceitar a sua existência numa outra dimensão. A incursão na fantasia, neste livro, é feita de forma divertida, despertando o interesse à medida que a trama da história vai avançando, transmitindo uma certa cumplicidade e uma forte carga afectiva que nos leva a querer fazer parte daquele local fantástico e de participar naquelas aventuras, tentando ajudar a resolver os problemas que aparecem, transformando-nos numa espécie de ajudante de O Sétimo Herói, ou mesmo num oitavo herói. Quem sabe? No mundo da fantasia tudo é possível, que o diga Jorge “Olhos –Duplos”…


Ana Margarida Oliveira e Silva, 10ºA

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