O ser humano distingue-se dos restantes animais por uma infinidade de razões que nos são ditas e repetidas ao longo da vida, como um eco que parece não cessar. Os feitos impressionantes e revolucionários de um punhado de indivíduos - por assim dizer - são alargados a toda a espécie humana para que o sentido de realização se distribua uniformemente por cada exemplar: "O ser humano manipulou a eletricidade", "O ser humano levantou voo" ou "O ser humano pisou a Lua". Continuamos a ouvir este eco mas - e obedecendo o som às leis da física - está cada vez mais… distante. Podemos voltar a gritar para que se prolongue, mas voltar a ouvir um disco não o torna novidade. Parece lógico então que se grite sobre algo novo. Mas sobre o quê?
Muitos preferem o silêncio,
perdem-se no eco das palavras cada vez mais ténues. Não é na verdade um
silêncio, mas sim um murmúrio que só ouve quem se aproxima o suficiente. Não
pretendem que as suas palavras cheguem a ouvidos alheios mas sim a quem lá está
para as ouvir. Muitos gritam o que outros murmuraram ou ouviram perdido
algures, num dia que não lembram. Pretendem, por assim acharem melhor, que
algumas palavras fiquem no ar para todos terem oportunidade de ouvir. Há por
fim quem grite o que pensa, aqueles para quem as suas próprias palavras devem
fazer parte do alvoroço para, com alguma sorte, serem novamente gritadas por
alguém.
É interessante que, ao contrário
dos outros animais, a nossa consciência seja assombrada com o conhecimento que
um dia iremos deixar de existir. Sabemo-lo, mas preferimos pôr esse pensamento
de parte e não o vocalizar demasiado, não vamos nós perceber que não fizemos
tanto até agora quanto desejávamos, pois quer a murmurar ou a gritar queremos
sempre passar a nossa palavra a alguém antes de não o podermos fazer mais. Não
precisamos de gritar tão alto para aparecer em livros, ser-nos erguida uma
estátua ou nos dedicarem um feriado. É preciso um esforço tremendo para
submeter as nossas cordas vocais a tamanho exercício. Mas devemos sempre falar,
mesmo que baixo, porque não importa até onde a nossa voz chegue, ela ficará
sempre perdida no eco.
João Romão, 12ºA
Sem comentários:
Enviar um comentário